quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

EUROPA: 2024 COMO SERÁ?

A seis meses das eleições para o Parlamento Europeu, a sondagem mais “oficial” que vai sendo divulgada (assente em 27 mil entrevistas espalhadas pelos diversos países) aponta para um possível desfecho de cariz negativo, com os grupos e partidos extremistas e eurocéticos a surgirem como aqueles que provavelmente mais crescerão em junho. Com efeito, e segundo os resultados da referida sondagem, o atual quinto maior grupo parlamentar (“Identidade e Democracia”, de extrema-direita) poderá transformar-se no terceiro maior ao ser apresentado em disputa cerrada com os liberais (“Renew”) e como tendo ultrapassado o grupo “Conservadores e Reformistas Europeus” (que ostenta igualmente ideais radicais de direita).

 

O contexto parece assim desfavorável para o lado pró-europeu (embora com os dois grandes grupos, PPE e S&D, a praticamente manterem o seu nível de representação e com os dois grupos menores, os Liberais e os Verdes, a sofrerem quebras com algum significado). Perante estas projeções, ainda necessariamente bastante preliminares, várias forças políticas extremistas já vieram procurar capitalizar em seu favor a situação, com especial destaque para a provocação do italiano Salvini de sugerir uma aliança com a direita moderada no sentido de “libertar a Europa” (nada menos!) ― sendo que a simples aritmética não o desmente integralmente (o somatório EPP+ID+ECR daria 144 eurodeputados, um valor não muito longe da maioria necessária de 352 e talvez atingível se considerados outros apoios vindos de alguns membros não-inscritos, como são os do partido húngaro Fidesz de Órban), embora pareça mais provável que tal aritmética tivesse de se confrontar com a quase certa relutância de boa parte da bancada dos populares europeus (só que, nunca fiando, a “análise concreta da situação concreta” é sempre suscetível de favorecer más tentações).

 

E assim vamos indo por esta Europa em permanente construção (até à derrota final de uma definitiva desconstrução?), na qual uma significativa parte dos cidadãos declara considerar que a adesão beneficiou o seu país (72%) e que as ações da UE têm impacto na sua vida quotidiana (70%)  como de modo algo otimista comentou Roberta Metsola ao afirmar que “os cidadãos confiam na UE para encontrar soluções” ― mas a maioria dos 400 milhões de eleitores ou não parece inclinada a decidir realmente nessa direção (e são muitos mais, cerca de 68% contra os 59% de 2019, os que se mostram com vontade de irem exercer o seu direito de voto) ou está hoje capturada por uma crescente crítica à eurocracia e suas prioridades e/ou pelos piores sinais do tempo.

(Ingram Pinn, https://www.ft.com)

(Patrick Chappatte, https://chappatte.com)

Sem comentários:

Enviar um comentário