(Já há bastante tempo que, em matéria de matérias comunitárias, não via uma história tão mal contada sobre o que efetivamente se passou no Conselho Europeu, primeiro para desbloquear o início das negociações com a Ucrânia para a sua entrada na União e depois com a discussão do pacote de cinquenta mil milhões de euros de ajuda financeira ao referido país. Sensato e precavido, António Costa anunciara que trouxera camisas para quatro dias, dando assim conta das expectativas apertadas que se antecipavam para contornar o elefante na sala Victor Orbán. Numa clara sugestão ao cidadão comunitário que isto de consensos de decisão começa a custar caro, a Comissão Europeia anunciara esta quarta-feira ter desbloqueado uma verba de 10,2 mil milhões de euros que tinha vedado à Hungria por desrespeito do Estado de direito, após melhorias no sistema judicial, mas ainda mantém 21 mil milhões suspenso. Mas nas declarações públicas que os diferentes países fizeram antes de entrar na reunião, a prudência de Costa parecia justificar-se, já que o líder húngaro persistiu no seu discurso de contrariar o início das negociações, sugerindo aparentemente que a manobra de charme da Comissão Europeia não fora suficiente para o fazer mudar de posição.)
Foi, pois, em ambiente crispado que a reunião do Conselho foi iniciada, embora se percebesse pelas movimentações documentadas pela imprensa que Alemanha e França tinham chamado a si as rédeas. Orbán não é cavalo que se domestique com facilidade, gesticula quanto baste e ninguém se atreve a afastar a ideia de que a sua agenda tem uma proximidade inquietante a Putin, o mesmo podendo dizer-se quanto à sua amizade com Benjamin Nethanyau.
Pois, ao contrário, do que o incrédulo cidadão comunitário imaginara, pensando naquelas reuniões carregadas pela noite fora, um passe de mágica, estima-se que urdido pelo primeiro-ministro alemão, conseguira que Orbán abandonasse a reunião durante a votação, permitindo assim que o início das negociações com a Ucrânia e a Moldávia pudesse ser aprovada por unanimidade. Os serviços de comunicação fizeram depois o seu trabalhinho e assim se anunciava uma decisão histórica, tornada possível por um simples truque, habilmente comprado pela Comissão Europeia que, face à gravidade da decisão, resolveu atirar para o caixote do lixo da história as derivas antidemocráticas da Hungria. Vicktor vai beber alguma coisa quente ao quente e deixa-nos decidir por unanimidade.
Porém, constituindo evidência que vai ser preciso mais dinheiro para convencer Orbán a um comportamento mais colaborativo, a Hungria manteve o seu veto ao desbloqueamento dos 50 mil milhões para a Ucrânia, bloqueando assim a revisão do orçamento da União para acomodar a referida verba de apoio à Ucrânia. E, perante a hipótese de tal medida ser apoiada pelos 26, assumindo a correspondente responsabilidade de partilha de responsabilidades financeiras, a União fez o que sabe melhor fazer, adiar para janeiro a rediscussão do assunto.
É sabido que a probabilidade de acontecer na Hungria algo de similar à abertura polaca é bastante reduzida, tendo em conta o modo o governo de Orbán tem manipulado toda a situação política interna. Isso significa que o cavalo Orbán continuará provocador e indomável. Aceitam-se novos e criativos passes de mágica para as próximas reuniões do Conselho.
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