(O jornalismo português está polarizado e dividido em dois grupos, de dimensão desproporcionada entre si. O primeiro, infelizmente mais expressivo, precarizado e fabricador de bolhas efémeras que rebentam rapidamente, é composto de gente de microfone ou pena em riste, tristemente à procura de um momento de glória, explorando contradições e controlando os políticos acobardados e sem agenda própria. É responsável pelo clima insuportável que se vive na esmagadora maioria da comunicação social e que nos faz procurar refúgio noutras paragens, onde ainda reina alguma decência, como é por exemplo o telejornal da RTP 2 pelas nove e trinta ou em algumas páginas do Público. O segundo, de mais pequena expressão, é composto de jornalistas de coragem, que correm riscos, que vão ao campo de batalha e que não se contentam com fontes submissas. Alexandra Lucas Coelho é uma dessas personalidades pelas quais nutro um respeito profundo, a quem devemos prodigiosos momentos de autenticidade, representados por informações proveniente das suas redes de amizade e de confiança inabalável, construída designadamente em teatros de guerra e denúncia de todas as formas de opressão.)
A crónica que Alexandra Lucas Coelho publicou com data de 26 de dezembro no Público, "Still alive: Gaza-Belém-Jerusalém, dezembro de 2023", com epicentro na Praça da Basílica da Natividade (Belém, Cisjordânia Ocupada) e com testemunhos de duas fontes, W. e R., regressadas ao seu contacto, acerca do clima de devastação e de efetiva limpeza étnica que se vive em Gaza é um portento de autenticidade, de reencontro com o jornalismo que sempre importou e que se nega a enveredar pelos caminhos ínvios da desinformação e de todas as formas de manipulação.
Que outra reação será possível ao impacto de tal crónica que não seja o de expressar o respeito mais profundo pelos que ousam transmitir o que realmente é sentido pelos que são objeto da mais despudorada limpeza étnica?
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