quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

AMANHECER

 


(Já há muitos dias que não usufruía de um amanhecer em Seixas. A luz da manhã instala-se e domina inconfundivelmente a paisagem e o Coura e o Minho apresentam-se com uma estranha quietude. Algumas aves, umas já residentes e outras continuando as suas sagas migratórias, são a única fonte de animação. Mistério dos mistérios, o ferry boat continua encalhado e dizem-me que por responsabilidade do lado galego que não consegue resolver um problema qualquer no porto de abrigo em Goiã. Causa-me espanto que tanta prosápia transfronteiriça, por vezes invocando a necessidade de investimentos mirabolantes, se apague nesta espera misteriosa, em que ninguém protesta. Mas afinal o tráfego diário transfronteiriço era ou não importante? E a própria economia local de Caminha parece resignada e começa a considerar a indisponibilidade do ferry como um dado adquirido. Tudo por aqui parece resignado, a sazonalidade entranha-se, reduz expectativas e nem as mini-peripécias da pequena política local parecem animar o pessoal. As primeiras páginas do Caminhense alinham com a resignação. Sim, talvez a passagem de ano anime um pouco o ambiente. Depois, lá mais para a frente, a Páscoa virá e as aleluias marcarão de novo o ritmo de mutações na paisagem. Depois, é só um salto até ao verão e tudo aparentemente se recomporá. Entretanto, a fúria exibicionista do Presidente Abel Caballero em Vigo atrai o pessoal para o feérico das iluminações viguesas e ajuda a compor a serena quietude destas paragens. Sim, há que gastar alguns euros, mas partilhar a experiência gera a sensação de que partilhamos um espaço mais vasto, mesmo que o transfronteiriço já tenha passado por melhores dias. Mas esta luz sobre o Minho compensa isso tudo e cada vez mais estou rendido aos pequenos prazeres da contemplação, aproveitando os dias. A secretária empilha-se de leituras adiadas, dividido entre os pequenos montes da secretária de Gaia e os de Seixas, vou ter de ser um pouco mais disciplinado, mas já o digo há muitos anos.)

 

Passada a nostalgia contemplativa, há que tirar partido do dia de férias e alinhar as últimas compras. Reservo as compras vínicas para amigos e família para seres dias em Seixas, um ritual insignificante para não esquecer a dinamização da economia local, neste caso da sempre prestável boutique dos vinhos do Alberto. Depois, os jornais e revistas e uma hora e tal de praça para recuperar energias. O ritual do Natal já passou por aqui noutros tempos, ficou essa memória e dificilmente se repetirá na sequência das mudanças de logística que todas as famílias acabam por superar. Agora, é preparar a afetividade para a chegada na próxima sexta-feira dos netos de Lisboa, a que se juntarão harmoniosamente os do Porto.

Perdoem toda esta nostalgia.

Feliz Natal para todos, especialmente para aqueles que nos seguem desde os primeiros tempos desta escrita indisciplinada e teimosa.

E quanto a 2024 deixei de fazer votos pios. Há que contribuir para ele na medida das nossas áreas de intervenção, não esquecendo que há umas eleições para ganhar.

 

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