Até há cerca de três anos, e admito que por culpa própria, desconhecia a existência de Nuno Palma (NP), um professor português que ensina História Económica na Universidade de Manchester. A ele acedi quando procurava factos e argumentos passados capazes de consolidar a minha (nossa, i.e., também dos meus coautores, Guilherme Costa e Rui Moreira, em “Balada da Média Virtude”) tese no sentido de que o crescimento português tem vivido secularmente da captação de “um exógeno e facilitador potencial de acesso a extração de rendas”. Tendo a leitura de textos de NP sido um contributo marcante para uma melhor compreensão do nosso “modelo imperial”, seja quanto à perceção de quanto “a partir do período do ‘ouro do Brasil’ as virtudes empreendedoras murcharam seja quanto às “marcas culturais em ideias e comportamentos” deixadas na maneira de pensar de uma elite político-ideológica.
Até aqui tudo bem. NP era um investigador competente e capaz de trabalhar de modo convincente tais matérias (e outras também, aliás, como as da educação). O problema nasce quando o dito NP decide dedicar-se a um ataque primário aos fundos europeus a que Portugal vem acedendo desde a sua entrada na União, em nome de uma aplicação relativamente despropositada da conhecida tese da “maldição dos recursos”. Embarcando num discurso politicamente dirigido (veja-se o capítulo específico em “As Causas do Atraso Português”, louvado de forma rara por João Miguel Tavares e por vários analistas do “Observador”, sendo que a Iniciativa Liberal já começa a situar-se nesse comprimento de onda), NP atira fora o menino com a água do banho: porque se é verdade que a estratégia de gestão dos fundos europeus é suscetível de criticismo, diga-se de passagem a vários títulos (incluindo no plano do modo como não tem sido devidamente enfrentada a sua comunicação, assim redundando naquilo a que NP chama uma “infantilização” ou, pelo menos, uma desresponsabilização cidadã), não o é menos que tais fundos foram os principais contribuintes pela positiva para o desenvolvimento que o País alcançou nas últimas quase quatro décadas (o que seríamos nós hoje sem eles?). Aqui lavro, pois, o meu protesto: não faz qualquer sentido que um investigador reputado se apresente a público para vender aos portugueses um argumentário tão pobre quanto deslocado e demagógico, antes importaria que o mesmo não se deixasse capturar por ideologias sem conteúdo e por uma vontade política legítima mas inconsequente.
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