(Por repetidas vezes, tive oportunidade de neste blogue chamar a atenção para as peripécias suscitadas pela modernização e eletrificação da linha do Minho, a tal que passa no horizonte da minha varanda de Seixas em que frequentemente trabalho. Chamei então a atenção para a manifesta desproporção existente entre as expectativas criadas em torno desse projeto, que os diferentes poderes políticos não contrariaram ou arrefeceram. Volto ao tema para dar conta de um excelente artigo publicado pelo Diário de Notícias sobre a matéria, sugestivamente intitulado de “Comboio de problemas na Linha do Minho após intervenção de 83 milhões de euros”. A importância da questão não se prende com a relação sempre complexa entre a dimensão do investimento e as realizações alcançadas, mas antes pelo que ela revela de total descoordenação entre a CP, empresa que opera na linha e as Infraestruturas de Portugal (IP) que gere a infraestrutura. Nas condições de cultura existente em matéria de coordenação e cooperação entre diferentes serviços públicos, que é deficiente para não dizer pornograficamente atentatória do interesse público, mantive desde o início fortes dúvidas quanto à divisão entre as dimensões operacional e infraestrutural. O relato da notícia do DN é um verdadeiro monumento de identificação de incongruências e de descoordenação absoluta entre os dois interesses. O jornalista do DN informa que “a CP alega que informou a gestora da infraestrutura [IP], antes da abertura da linha, sobre as características necessárias para a realização segura e eficiente da operação”. As incongruências que saltam à vista no dia a dia dos utentes que usam a linha a partir de Nine até Valença são um chorrilho de incongruências. E pelos vistos nenhum dos responsáveis políticos (deputados pelo distrito de Viana do Castelo, autarcas, Comunidade Intermunicipal do Alto Minho, membros do Governo) se dignou prestar alguma atenção ao acompanhamento do investimento, apetecendo perguntar o que é que realmente andam a fazer.)
As incongruências identificadas pela notícia do DN preenchem as condições de manual destas coisas. Em alguns apeadeiros, como a sempre atrativa Moledo, o modelo de locomotiva elétrica mais utilizada e as três carruagens que integram as composições de circulação mais local não cabem nos 80 metros de comprimento da plataforma. Noutros casos, só ao longo da plataforma é possível subir ou descer em segurança das composições, já que fora dela será necessário uma escada ou um exercício de ginástica para especialistas o poder fazer. E há mesmo quem diga que em situações de grande afluência de público os comboios têm de parar duas vezes no mesmo apeadeiro para garantir que se desça ou suba em segurança.
A notícia do DN desenvolve depois novos elementos de estranheza sobre sinalização eletrónica com implicações no tempo de viagem e que ajudam a perceber porque razão o investimento não se traduziu em melhorias visíveis de tempo de viagem-
Já tinha percebido que aquela ideia peregrina de ver o Alfa Pendular a circular na linha do Minho a partir da minha varanda tinha sido uma das mais gloriosas patranhas políticas por Terras do Alto Minho. Coordenei em tempos um estudo para o Eixo Atlântico em que demonstrava a não fiabilidade dessa promessa. É uma promessa que já lá vai. Mas agora é pedir menos. É tão só exigir que a eletrificação dê origem a toda a obra necessária de adaptação de plataformas para que a mudança seja consequente e beneficie e não penalize a qualidade de vida do utente do serviço da Linha do Minho.
Entretanto, o Celta Porto-Vigo continua a fazer-se em material diesel e melhorias de tempo de viagem nem vê-las.
E assim se vê a desvalorização do transporte ferroviário e a incompetência das empresas majestáticas.
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