Aproxima-se a passos largos o momento da decisão do Partido Socialista sobre quem será o seu próximo secretário-geral e, portanto, candidato a primeiro-ministro nas próximas eleições de 10 de março. Breves notas, considerando tudo quanto vi, ouvi e li no contexto de uma campanha que foi digna e relativamente esclarecedora (apesar de excessivamente pouco focada nos decisivos temas da Justiça, o “elefante fora da sala”). Notas que tendem a acentuar, sobretudo, matérias que relevam de um foro próximo do equívoco ou afim, seja numa direção ou na direção oposta.
O desenvolvimento da campanha de José Luís Carneiro (JLC) é o primeiro dos elementos de equívoco que quereria sublinhar. A meu ver, JLC começou bem na sua inicialmente declarada, mas desapaixonada, assunção do legado de António Costa; à medida que o tempo foi passando, JLC pareceu ter-se deixado capturar pela ideia de que o convenceram de que deveria querer apresentar-se como o herdeiro do ainda primeiro-ministro (o homem da continuidade), talvez por razões táticas de conquista de algum espaço “costista” interno, talvez para evitar correr riscos associados a alguma incapacidade de definição estratégica diferenciadora e talvez também por motivos decorrentes de proximidades demasiado impositivas (Medina, desde logo). Veremos se esta opção de JLC não terá sido errada, especialmente se pensarmos nos cidadãos que foram desesperando com o antirreformismo primário dos governos de Costa e suas consequências, mais atentos a propostas que se traduzam por oportunidades de mudança do que aos empastelamentos adquiridos.
Já com Pedro Nuno Santos (PNS) aconteceu algo de inverso, começando mal (quer na sua promessa desabrida relativamente aos professores ou na questão da utilização a dar aos excedentes orçamentais, quer ao deixar-se ligar em excesso à ideia de ser pouco mais do que o homem do regresso da “geringonça”) mas foi depois corrigindo gradualmente o tiro. É óbvio que sobre os ombros de PNS pesam os erros políticos que cometeu no passado recente (e que o próprio logo confessou aquando do lançamento de candidatura), uma imagem de impulsividade que roça a inconsequência (e não basta de todo o seu recurso àquela máxima popular de que “mais vale feito do que perfeito”) e uma ausência de quadro de referência político e de projeto para o País (ou uma maturação suficientemente divulgada e reconhecida nesse sentido). Mas não deixa de ser igualmente certo que PNS exibe uma energia que falta a todos os outros e alguns apoios “fora da caixa”, encostou a Costa q.b. (afinal, será este a ter que “engolir o sapo” e tudo o mais virá sempre por acréscimo), refinou a sua argumentação (saliento, p.e., aquela nota que lhe saiu na entrevista de ontem à RTP segundo a qual a viabilização de um governo de bloco central ― as palavras não foram estas mas andaram por aí ― resultaria mais do que tudo num favorecimento objetivo de espaço para o Chega crescer) e conseguiu moderar os seus ímpetos mais primários por forma a deixar de surgir como alguém essencialmente radical.
Aqui chegado, e obviamente desconhecendo quem será o vencedor (embora não desconhecendo o favoritismo que é atribuído a PNS), sempre acrescentarei que não ficará completa a clarificação do quadro que se nos apresentará a partir de Sábado à noite enquanto JLC (se vencer) não adquirir a sua própria “autonomia estratégica” ou PNS (se vencer) não trouxer à tona as grandes linhas da orientação estratégica com que visa ganhar o País. Sem o que um e o outro, embora por causas diversas, passarão os próximos quase três meses a perder iniciativa e eleitores perante um adversário que, estando fragilizado pela inexpressiva liderança de Montenegro, sempre se apresentará como mais pontuado pela novidade e pela mobilização que sempre provem do “cheiro a poder”. E por aqui me fico, para já.
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