(https://www.galizalivre.com/2020/01/03/que-fazia-a-esquerda-independentista-galega-dos-anos-30-realmente-ii/)
(Por razões profissionais, que devo confessar já foram mais intensas do que as hoje observadas, mas essencialmente por razões de amizade com Amigos galegos universitários e do universo do planeamento, sigo com atenção a política galega. A Galiza é uma autonomia que mantém há longo tempo uma relação de fidelidade controlada ao PP, foi aí que Nuñez Feijoo realizou a sua aprendizagem política até assumir a liderança nacional do PP e por isso a evolução política galega deve ser interpretada como uma espécie de contraponto às autonomias mais belicosas que apoiam hoje o PSOE de Sánchez no Congresso de Deputados, com destaque para o País Basco, a Catalunha e, em menor medida, Navarra. Claro que a recente e retumbante vitória do PP na Andaluzia, conquistando um bastião socialista de longa data e tradição, suscita equivalente atenção, mas é óbvio que pelo seu caráter mais recente não nos proporciona o mesmo capital de reflexão que a estável presença do PP na Galiza. A matéria mais sugestiva para seguir com atenção crítica na Galiza é a que está relacionada com a difícil sustentação da esquerda galega, desde o PSOE galego até às suas formas mais extremas, em que se contam o Bloco Nacionalista Galego de Ana Pontón, neste momento a força política mais organizada, as múltiplas ramificações de um PODEMOS agonizante, a presença do SUMAR de Yolanda Diáz ela também galega e os também múltiplos grupos que se acolhiam no movimento ANOVA, sob a figura tutelar de Xosé Manuel Beiras. Entretanto, a efémera pujança local do movimento MAREAS, impulsionado pelo período áureo do PODEMOS praticamente que se desvaneceu.)
Numa decisão política hábil e oportuna, Alfonso Rueda líder atual do PP galego e da Xunta de Galicia antecipou as eleições regionais e é nessa azáfama que vale a pena seguir e analisar o rega-bofe suicida que se vai vivendo na esquerda galega. A antecipação das eleições regionais é hábil, porque Rueda, certamente que depois de conversar com Feijoo, entendeu que seria fundamental capitalizar o descontentamento popular de direita que a atribulada manutenção do poder por parte de Pedro Sánchez está a provocar. As eleições regionais serão assim uma espécie de plebiscito desse descontentamento popular de direita e na medida em que os galegos têm-se mantido relativamente indiferentes ao radicalismo do VOX de Abascal uma vitória de Rueda com maioria absoluta representará um forte apoio às pretensões de oposição de Feijoo.
Embora com alguma presença a nível municipal, sobretudo em cidades com alguma expressão populacional, como Vigo e Corunha, por acaso lideradas por diferentes tendências do PSOE, o PSOE galego tem-se debatido com um risco sério de irrelevância política, com uma sucessão infernal de lideranças que não aquecem nem arrefecem. A relação de forças tem pendido para o Bloco Nacionalista Galego de Ana Pontón, que se tem mantido mais estável e que tem seriamente capitalizado a popularidade genuína de Pontón, galega de quatro costados. Em matéria de pensamento político, não se conhece qualquer ideia inovadora de alcance político futuro ao PSOE galego atual. A jovem Inés Rey que lidera o município da Corunha é talvez a que está mais próxima de acrescentar algo de válido à política galega, já que em Vigo o Professor Abel Caballero é mais conhecido pelas feéricas iluminações natalícias do que por alguma ideia política relevante para suscitar uma alternativa de esquerda na Galiza.
Mas onde o festim da irrelevância política, com toques suicidas, é mais saliente observa-se à esquerda do PSOE e do BNG. O SUMAR de Yolanda Diáz ensaiou uma proposta de candidatura política conjunta com as reminiscências do PODEMOS na Galiza, sugerindo que o anterior líder da ANOVA Martino Noriega, próximo da influência tutelar de Beiras, pudesse encabeçar essa aliança nas eleições regionais. As fricções entre o SUMAR e o PODEMOS agonizante estão ao rubro e os militantes galegos do PODEMOS rejeitaram por 60% de votos essa aliança, apoiando provavelmente o BNG de Ana Pontón.
O fracionamento da esquerda mais radical e alternativa na Galiza tende para um universo de grupúsculos, cuja representatividade eleitoral excede pouco a massa de inscritos nessas organizações. A consequência mais natural será o reforço do BNG, abrindo-se uma enorme interrogação quanto à capacidade do PSOE galego se reinventar.
A história da pluralidade das ideias à esquerda parece repetir-se na Galiza, com o agravante dela agora acontecer sem figuras de peso e com espessura política a animar o processo. Certamente um passo de gigante para a irrelevância política. Mas esta gente não se enxerga por uma vez?
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