(Sou dos que penso que em Portugal se fala demais de gestão e menos de organização. À medida que vou acumulando experiência de conhecimento e de contacto com diferentes organizações, públicas, privadas e de parcerias público-privadas, vou confirmando esta minha ideia que a esmagadora maioria dos constrangimentos à ação e dos bloqueios que condicionam o andar para a frente das coisas resultam de questões organizacionais. Em linha com esta minha perceção, sabemos que abundam os especialistas de gestão e escasseiam os que sabem de ciências e de modelos de organização. A companhia do sempre estimulante Henri Mintzberg tem sido fundamental para nas minhas atividades de planeamento estratégico e de estratégia perceber a todo o tempo que as questões da organização são cruciais em qualquer estratégia, sobretudo se tivermos em conta a chamada transição, ou seja como partir do que existe para lograr alcançar a transformação desejada. No post de hoje, trago uma daquelas preciosidades ou alertas de pensamento de Mintzberg, com as quais ele desafia implacavelmente os gestores de hoje, aos quais acrescentaria todos os planeadores que lidam com instituições e com o seu reposicionamento. )
A questão é simultaneamente muito simples e direta.
Queres que a tua organização funcione como uma estrutura hierárquica (organograma) ou como uma vaca?
A questão é desconcertante, como aliás são todos os alertas provocatórios de Mintzberg. Como o autor canadiano nos recorda, numa vaca saudável, as partes em que ela se compõe e que entusiasmam os gastrónomos que ainda ousam comer carne nem sequer se apercebem que são partes de um todo e, por isso, funcionam na maior harmonia possível. Pode, pois, perguntar-se porque razão as organizações não funcionam como vacas e revelam tanta dificuldade em praticar a cooperação de recursos interna.
Mintzberg conta uma deliciosa história passada numa das suas missões de trabalho na Índia, terra de convivência com as vacas sagradas:
“No primeiro dia disseram-nos que quando atravessássemos uma rua na Índia o fizéssemos andando “como uma vaca”. Todo o grupo deve permanecer coeso e fomos avisados para não fazer qualquer coisa de inesperado. Assim, deveríamos mover-nos lentamente atravessando a estrada e o tráfego que nos rodeava. Durante todo o programa, as pessoas utilizaram esta metáfora da vaca (recordando a outra, acerca de trabalhar como uma vaca”.
Identifico-me com esta necessidade de trespassar (trespassing) as estruturas hierárquicas e desesperadamente contra a ideia de cooperação de recursos.
Ou seja, em termos organizacionais, reabilitemos a ideia de funcionar como uma vaca e muitos dos problemas das nossas organizações mais viciadas e viciosas seriam ultrapassados.
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