terça-feira, 26 de dezembro de 2023

QUESTÕES SINO-AMERICANAS QUE SÃO DORES DE CABEÇA PARA BIDEN

 


(Para tragédia do mundo civilizado, os riscos de que o Presidente Joe Biden possa perder a sua reeleição são hoje muito elevados, o que é tanto mais paradoxal quanto mais a economia americana se encontra a recuperar do surto inflacionista em modo de aterragem suave. E ainda tão mais paradoxal quanto se sabe que a administração Biden promoveu dois importantes focos de política industrial, o Inflation Reduction Act no domínio da economia verde e o Chip Act na área dos semicondutores, que constituem duas das mais importantes manifestações de intervenção na economia. No post de hoje, não irei tratar duas das mais relevantes evidências de que a reeleição não está de modo algum garantida. Uma que respeita à baixa notoriedade da personalidade de Biden junto do público mais jovem e uma outra, creio que mais grave, que diz respeito à fissura observada no Partido Democrata e provocada pelo seguidismo americano em relação a Israel. São duas dimensões importantes, sobretudo porque não se antevê facilidades na inversão do rumo destas coisas. Hoje concentrar-me-ei nas dores de cabeça que a natureza das assimetrias ainda hoje observadas entre as economias chinesa e americana está a provocar na opinião pública americana, sobretudo a partir do momento em que a administração americana se colocou numa posição claramente imprudente relativamente às assimetrias com a economia chinesa, explorando um discurso de retórica política que os números da integração entre as duas economias desmentem de forma ineludível, com realidades cuja espessura no tempo é manifesta e que, por isso, não se iluminam por passes de mágica da retórica política.)

 

O economista Robert Baldwin é uma fonte inesgotável para tratar com credibilidade estas matérias e a ele recorre, mais propriamente a um tweet recentemente publicado, que nos traz duas evidências relevantes das assimetrias que penalizam a economia americana relativamente à chinesa e que não será fácil inverter no curto prazo, embora se reconheça que as duas iniciativas de política industrial atrás referidas são um instrumento poderoso para colocar a economia americana noutro patamar.

O gráfico da esquerda mostra com clareza como a economia americana é francamente mais dependente dos consumos intermédios com origem na China do que a economia desta última o é relativamente a consumos intermédios com origem nos EUA. As diferenças são óbvias e evidenciam que não será fácil reduzir rapidamente esta assimetria, mesmo que aceitemos que os consumos intermédios com origem na China não terão o mesmo potencial de conhecimento que os consumos intermédios com origem nos EUA. Mas mesmo em matéria de atividades de I&D pública e empresarial é bom não esquecer que a capacidade do regime chinês colocar em funções massas relevantes de investigadores e engenheiros de I&D não é despicienda.

O gráfico da direita mostra também com clareza que a produção chinesa depende cada vez menos de compras realizadas por empresas e residentes americanos, a ponto de estar hoje muito próxima da dependência que a produção americana evidencia das compras chinesas.

Estas duas assimetrias estão decididamente para além da retórica política mais inflamada e parece hoje evidente que se tratou de uma realidade que estava ali em frente aos nossos olhos e que Europeus, sobretudo alemães, e Americanos quiseram ignorar, tão evidentes eram as delícias da globalização e da integração das economias.

E o que ressalta de mais importante dos dois gráficos é o comportamento dinâmico que revelam. Aparentemente, os gráficos evidenciam que a economia chinesa se adaptou melhor e maia rapidamente à inflamada retórica política. E já não falo da assimetria na produção de veículos elétricos que foi já objeto de alguns posts.

 

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