(Carlos Amorim, https://www.cartoonmovement.com)
Como já por diversas vezes aqui referimos, a extrema-direita demorou a chegar a Portugal em termos partidários e de expressão eleitoral mas chegou com enorme despudor e descaramento e alguma força nas urnas. Dito isto, e considerada a representação parlamentar do “Chega” e a cobertura mediática que lhe é dedicada (Ventura terá sido o líder mais presente nas televisões durante o mês passado!), há quem admita que não tardará o dia em que tais seres acabem por vir a ocupar cargos governativos. Ao invés, e isto não passa de uma sensação de tipo predominantemente impressivo e pessoal, tendo a achar que a sofreguidão deles, a sua agressividade em relação a tudo o que mexe na sociedade portuguesa e a crescente generalização da perceção de que se trata de gente não confiável irão erodir, mais ou menos rapidamente, a sua base de apoio.
Com as eleições europeias a poucas semanas de acontecerem, teremos aí uma primeira comprovação (ou infirmação) daquele meu feeling. E, nesse quadro, diria que o cabeça-de-lista que apresentam (o Embaixador Tânger Correia) surge como alguém demasiado canhestro e pouco mobilizador – vejam, se puderem, os embasbacantes momentos que sobre ele elaborou Ricardo Araújo Pereira no seu programa dominical da SIC a partir de uma inacreditável entrevista que concedeu ao “Observador” – para ser capaz de manter os níveis atingidos pelo partido nas últimas legislativas; a sua entrevista de hoje ao “Diário de Notícias” é menos hilariante mas vai no mesmo sentido, desde logo ao sustentar que Sebastião Bugalho está a muitos quilómetros de distância de Rita Matias (hipervalorizando o uso intensivo que esta faz das redes sociais e minimizando a sua total ausência de substância, o que talvez conte relativamente mais no próximo processo eleitoral) e ao ter a distinta lata de afirmar que “a extrema-direita não existe” e que as referências à mesma não passam de “uma invenção da rapaziada do outro lado”. Veremos o que aí vem mas, embora seja certo que Tânger vai andar por Bruxelas nos próximos anos, não apostaria muitas fichas em que vá conseguir levar consigo tanta companhia quanto espera...
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