sábado, 11 de maio de 2024

FRAQUINHO E POBREZINHO DE IDEIAS

 

(O Partido Socialista de Pedo Nuno Santos apresentou finalmente o seu programa de ideias para as eleições europeias de junho de 2024. Penso que toda a gente já compreendeu a importância de travar o crescendo no novo Parlamento Europeu do bloco da extrema-direita e, infelizmente, o que se adivinha do posicionamento do Partido Popular Europeu em que Ursula von der Leyen se apoia não antecipa nada de bom do ponto de vista do embate contra essas forças. Por isso, reforçar a posição no PE dos grupos mais progressistas, como por exemplo os Socialistas Europeus e os Verdes representam em meu entender o melhor caminho para defender a União dos cavalos de Troia despudoradamente nela já instalados. O jogo de cintura do PPE é demasiado flexível para meu gosto e adivinha-se por ali a presença de gente com capacidade para pactar com o Diabo, qualquer que seja a manifestação que ele revista. Esperaria por isso que o PS nacional se esmerasse e olhasse para a Europa segundo esta nova perspetiva de não estar nestas eleições em jogo o que marcou as últimas, por isso com a imperiosa necessidade de arrepiar caminho e propor alguma coisa que enriqueça o debate e o compromisso de ideias para um novo ciclo de União. A minha ingenuidade não tem limites e o que veio a público na voz dos principais candidatos do PS é de uma pobreza franciscana, não contribuindo em nada para estimular no cidadão nacional uma perspetiva mais ambiciosa sobre os rumos da União. Começo a antever o pior não do ponto de vista da votação que Temido e seus pares conseguirão arrancar nas urnas, mas antes na perspetiva de disseminar junto do eleitor a ideia de que o momento em que a União se encontra é grave de mais para se combater com a banalização das ideias.)

Com nove missões como porta de entrada para um novo compromisso político dos socialistas portugueses com o futuro da União, se excetuarmos a ideia do mecanismo de combate permanente às crises (do qual António Costa falou abundantemente a seu tempo) e a ideia de um programa europeu para uma habitação acessível (ver post anterior sobre esta matéria), o texto que veio a público parece vir da pena de um jovem estagiário ainda às voltas com o conhecimento superficial dos dossiers. O documento opta assim por banalidades sistematicamente referenciadas em documentos da Comissão Europeia, não se vislumbrando um sinal que seja de inovação das ideias. Nada de relevante sobre os destinos da política de coesão, igualmente nada de pertinente sobre a necessidade de reformular a abordagem à implementação das políticas de transição energética e climática, defesa e segurança europeia parece coisa fácil e não sujeita a fortes contradições no seio da própria União, pistas para uma política industrial integradora do desenvolvimento desigual no interior da União, só para citar quatro problemáticas que mereceriam, em meu entender, particular destaque é tudo o que temos neste manifesto.

Pergunta-se: se não tivermos em conta os eleitores que votarão borrifando-se olimpicamente para o futuro da União e apenas concentrados em castigar a AD pelo mau arranque da sua governação ou conter o Chega, que sinceramente não sou capaz de quantificar mesmo com intervalos amplos, será que este manifesto faz a diferença do ponto de vista da defesa de um aumento de participação do grupo dos Socialistas Europeus no PE? Estou seguro que não e quem estava cético sobre a real capacidade dos socialistas nacionais influenciarem as ideias para um Parlamento Europeu mais progressista ficará certamente ainda mais cético e desconfiado. Será que o PS de PNS se dignou ouvir os atuais deputados, alguns deles com forte conhecimento acumulado sobre as questões europeias? Temo que não ou, em caso contrário, certamente fizeram tábua rasa de eventuais ideias que dai brotaram.

O risco destas eleições pode assim ser descrito deste modo algo cruel: um resultado eventualmente positivo do PS nestas eleições poderá surgir dos piores motivos possíveis, ou seja, como arma de arremesso político contra uma AD ainda hesitante entre a arrogância, a destruição paulatina de tudo quanto herdou e o conserto possível de inexperiência e incompetência. O que, convenhamos, do ponto de vista de umas eleições europeias realizadas em momento tão crítico para o futuro da União, seria a pior razão possível para justificar uma possível vitória.

 

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