A “Convenção Viva 24”, organizada neste fim de semana pelo partido de extrema-direita espanhol (“Vox”), foi o momento mais simbolicamente determinante dos tempos mais recentes. Apesar do ruído descabidamente trazido pelo presidente argentino Javier MIlei, abrindo um conflito diplomático com Pedro Sánchez, o que foi verdadeiramente significativo teve a ver com o claro esforço de aproximação levado a cabo por todo aquele heterogéneo conclave de ultras (nacionalistas, populistas, extremistas, antiliberais, antieuropeus, neofascistas, liberais sem limites, “trumpistas” confessos, radicais latino-americanos e israelitas ortodoxos) com vista a estruturarem uma forte aliança internacional destinada a afirmar uma agenda própria (soberanista e identitária, assente em ideias rácicos e civilizacionalmente reacionários, de combate à imigração e à defesa do ambiente) na cena política global (com as eleições europeias no horizonte mais imediato, como bem reflete o facto de tão amigável ter sido o relacionamento entre os filiados no grupo conservador e reformista ERC, como Mateusz Morawiecki, e no grupo dito de identidade e democracia ID, como Marine Le Pen). O anfitrião Santiago Abascal terá saído reconfortado pela quantidade de presenças “ilustres” que conseguiu reunir (a calculista Giorgia Meloni e o inefável Viktor Orbán mandaram saudações gravadas), entre as quais se contou a do nosso André Ventura, autor de um dos discursos mais inflamados e inconcebíveis que foram ouvidos em Madrid. E se as contradições internas ainda não se encontram suficientemente limadas, designadamente no tocante à questão Putin-Ucrânia e a algumas matérias de fechamento em relação a uma acrescida tolerância a vivências e costumes, o certo é que esta gente vai dando passos não negligenciáveis em direção ao insuportável futuro por eles proclamado.
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