Luís Montenegro falou ontem ao País para o informar de que “habemus aeroporto” e mais uma nova travessia do Tejo e um TGV para Madrid. A classe política e os comentadores da bolha rejubilaram e não têm falado de outra coisa, nas horas entretanto transcorridas, que não do Novo Aeroporto de Lisboa que havemos de haver.
No que me toca, e para uma memória futura cujo efeito final talvez não venha a testemunhar, quero apenas aqui sublinhar aquela que é a “apagada e vil tristeza” que emerge do unanimismo entusiasmado, modernista e pacóvio das nossas elites. Porque ninguém foi capaz de desafiar (ou nem que fosse só de beliscar) os argumentos axiomáticos de uma trajetória de crescimento da procura que subjaz à decisão (e a tecnologia aeronáutica e as exigências climáticas a mudarem o mundo?), de uma interminável aposta no turismo que dela inevitavelmente decorrerá até limites de insustentabilidade (para mal das condições de vida nas grandes cidades portuguesas e para mal de uma evolução económica nacional congelada numa empobrecedora incapacidade de complexificação), dos custos alegadamente comportáveis a ela associados e da garantia adicional de deles poupar os contribuintes (contra a sua indeterminação mas brutalidade certa e contra promessas enganosas por irrealistas) ou de um ínterim gerível em todos os planos (entre, ilustrativamente, o aumento de tráfego e as obras na Portela e os dez anos de construção que até podem ser quinze).
(Riki Blanco, https://elpais.com)
(Luís Afonso, “Bartoon”, https://www.publico.pt)
Resumindo e concluindo: faço com gosto parte de uma minoria de cidadãos que partilham preocupações sérias em relação ao estado do País e às respostas infraestruturais deslocadas e exorbitantes que não deixam de ser cumplicemente maquinadas pela inconsistência dos poderosos e pela prioridade que conferem à esforçada salvaguarda do espaço de atuação que lhes é próprio – e é nesse quadro que aqui quero reafirmar que estou contra!
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