(É muito frequente entre os colegas com quem trabalho formar-se a opinião de que lá vem este outra vez com o exemplo do Fundão. Reconheço que isso é verdade e há uma dupla razão para o explicar. Primeiro, o município do Fundão destaca-se pela originalidade dos seus projetos enquanto município interior. Segundo, porque tive oportunidade de acompanhar de perto a força da natureza que Paulo Fernandes representa como Presidente da Câmara e em ação, ou seja, liderando projetos de intervenção. Nos meus trabalhos de consultoria para a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro tive oportunidade de confirmar a relevância da sua participação em inúmeros processos, destacando-se o modo como Paulo Fernandes acompanhou a implementação da Estratégia Regional de Especialização Inteligente da Região Centro, à luz da sua preocupação central e bem inteligente de que a inovação e a investigação científica e tecnológica não passassem ao lado dos territórios rurais e de mais baixa densidade. Por isso, não é para mim qualquer surpresa ter conhecimento através de uma reportagem do Público, que vale mais do que simples discursos sobre imigração, que o Fundão é também um município exemplar em termos do que costumo designar pela tríade da imigração – atrair, acolher e integrar. E lá estamos nós de novo perante a evidência de que a organização e os recursos são importantes, mas não podemos ficar indiferentes à intuição, força e desempenho da liderança. E Paulo Fernandes é de facto um autarca que honra a democracia, o desenvolvimento local e o que representou a autonomia do Poder Local. Não sei, porque nunca trabalhei profissionalmente no município do Fundão, se a liderança de Paulo Fernandes é em si também um processo de socialização e se novos personagens estão na calha para lhe suceder quando acontecer a limitação de novos mandatos. Essa substituição não é fácil, dado o ponto alto em que a fasquia está hoje situada, mas espero que a sua experiência e criatividade impulsionem novos personagens. O cadinho de nacionalidades em que o Fundão se transformou agradece.)
O Fundão começou por ser um exemplo bem-sucedido de atração de talento a uma zona interior e para isso muita importância teve o acordo que o município realizou com a Academia de Código (Lisboa), para iniciar no Fundão um trabalho bastante meritório de formação de novos programadores, com isso conseguindo atrair a atenção de algumas empresas na área das TIC, que se confrontavam então com dificuldades de recrutamento de novos programadores. Completando a iniciativa com um programa de arrendamento ou compra de habitações para arrendar a jovens casais que se instalasse no concelho, a Câmara Municipal tomou a iniciativa, substituiu-se ao mercado e resolver uma das questões essenciais de qualquer decisão de mudança de residência – a existência de habitação a preço acessível e compatível com o início de uma nova vida.
Simultaneamente, Paulo Fernandes movimentou-se no sentido de estabelecimento de inúmeras parcerias com estruturas universitárias e de investigação. Conheci na altura a sua preocupação pela investigação e preservação das modalidades de cereja em que o Fundão é profusamente conhecido e, através do voluntarismo da sua participação em todas as iniciativas da CCDR Centro, de quem foi e é um parceiro de grande valia, conseguiu colocar o interior no mapa da notoriedade e inscrevendo-se por isso no mapa das decisões do Should I stay or Should I go que acompanha qualquer migração.
A transformação do Fundão em centro exemplar de integração de novos migrantes de que a reportagem do Público fala abundantemente é, no meu entender, a simples evolução do modelo inicial de atração de talentos e que se alargou a um estatuto de convivialidade para a boa integração. Não é apenas com discurso e retórica que se combate a xenofobia reinante. É com obra concreta e com liderança inabalável que se constroem alternativas. A coerência de Pulo Fernandes vai ao ponto de o vermos nos momentos difíceis de fogos rurais no território do concelho na televisão com a mesma determinação a combater o fogo e a proteger a sua população mais desfavorecida.
Por isso, sem surpresa para mim, o Fundão vai marcar um roteiro de boas práticas na complexa questão de criar ambientes locais favoráveis ao acolhimento e integração de imigrantes e talvez a ideia de interior se desconstrua em favor de uma nova dimensão de atratividade.
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