quarta-feira, 15 de maio de 2024

SIMPLESMENTE MERYL

 


(Desculpem a familiaridade, mas a Meryl é uma rapariga da minha idade, 74 anos, com a qual, obviamente, nunca me cruzei, mas que faz parte indissociável do meu imaginário cinematográfico. Ontem foi objeto de uma homenagem em Cannes, Palma de Ouro honorária, um prémio de carreira, e como sempre, fazendo jus a um equilíbrio permanente que faz dela uma mulher não menos fascinante, antes a valoriza, disse palavras sábias. Disse Meryl que da última vez em que tinha estado na meca de Cannes, era Mãe de três filhos, em torno dos quarenta e que, por isso, na altura admitia que a sua carreira poderia ter reduzidas margens de manobra de desenvolvimento. Palavras sábias que descrevem melhor do que qualquer discurso inflamado de feminismo a situação de penalização que as Atrizes viviam na altura. Mulher a entrar na maturidade que ela melhor do que ninguém retratou para sempre nas fabulosas imagens das Pontes de Madison County, contracenando com o não menos fabuloso Clint Eastwood. Sim é a Meryl de Madison County que me enche as medidas e sempre que revejo o filme uma lágrima ao canto do olho emerge quando se compreende que tudo vai regressar à calma do passado e que aquela paixão deixa de ser possível quando um semáforo verde se acende, inexoravelmente, e o tempo avança.)

Ontem, emocionada na homenagem, sem alaridos ou tiques de histeria construída, Meryl recordou a Mãe com palavras não menos sábias – tudo passa muito depressa. Curiosamente, é uma expressão que utilizo cada vez mais, por razões óbvias. Tudo acontece de facto demasiado depressa, sem que aprendamos a viver os momentos pelos momentos, os dias pelos dias. Só pessoas com muita espessura e consistência como Meryl Streep podem lutar contra essa efemeridade cada vez mais acelerada da vida.

 

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