terça-feira, 28 de maio de 2024

INCONFORMISMO DIPLOMÁTICO

 

(Todos os cidadãos bem-intencionados tenderão a pensar que, qualquer que seja o governo que esteja em funções neste momento, a Espanha, a Irlanda e a Noruega são países de inequívoca constituição democrática e que, por isso, dificilmente poderão ser apontados a dedo como fatores latentes ou abertos de instabilidade mundial. Ora, estes três países decidiram reconhecer o Estado da Palestina, abrindo-se por isso a representações diplomáticas sob a forma de embaixada, por mais problemática que seja por esta altura a sobrevivência do povo palestiniano, seja por força da loucura do Hamas, seja pela fúria de vingança assassina de Israel. Como seria de prever, sobretudo em Espanha, sobretudo porque o meu raio de ação informativa não chega nem à Irlanda, nem à Noruega, a corte de pensadores do PP veio zurzir na decisão de Sánchez, apontando-lhe o estigma da mera tática política para agradar aos seus aguerridos e problemáticos colegas de coligação parlamentar. Na minha interpretação, os três países quiseram, e estão plenamente no seu direito, fundamentalmente expressar o seu inconformismo diplomático e mostrar uma linha de total desaprovação ao comportamento isolacionista de Israel, contra todas as boas normas da contenção de resposta em ambiente de guerra e agressão. Por mais reservas que as virgens ofendidas da diplomacia possam invocar, e neste âmbito o ministro Paulo Rangel, o homem está velho e cansado, é um prodígio de flores de estilo, em meu entender é de inconformismo diplomático que se trata e do legítimo direito de o expressar contra o atavismo, a resignação e a veneração a Israel. Existe uma instituição de direito internacional, que se chama Tribunal Penal Internacional que não confundiu o anti-semitismo com a acusação a Nethanyahu e o acusou para julgamento.)

Claro que a senhora Ursula von der Leyen confunde cada vez mais os interesses alemães com os da Europa, perdida e amedrontada no labirinto do interesse da sua própria reeleição, namoriscando a extrema-direita, sobretudo a italiana, onde de repente Meloni emerge como a grande estadista vinda dos mundos profundos do “mussolinismo”, onde certamente terá aprendido muito. De inconformismo diplomático é que a União Europeia não pode ser seguramente acusada, porque tantos são os interesses que têm de ser combinados que se anulam e conduzem ao imobilismo, esperando que os outros se mexam para dar a ideia de que a Europa também se mexe. Nestes meandros, um político como Borrel merecia mais para concluir a sua passagem pela vida política.

Dir-me-ão os céticos que a decisão de Espanha, Irlanda e Noruega vai ser apenas isso – simples inconformismo diplomático, que se quedará por aí, sem resultados palpáveis em termos de resolução do conflito e de assegurar um futuro de paz ao povo palestiniano. Sim, pode ser que seja. Mas se fosse cidadão espanhol, irlandês ou norueguês estaria satisfeito com a expressão deste inconformismo. Como sou português, tenho de atirar para trás das costas os malabarismos estilísticos de Paulo Rangel, já que Montenegro nem disso será capaz.

E, para desanuviar, uns curtos dias em Istambul dar-me-ão um outro olhar sobre tudo isto, que bem preciso.

 

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