segunda-feira, 27 de maio de 2024

O NADA FOFO CAFÔFO

(O povo madeirense e a sua empenhada administração pública regional mereciam seguramente lideranças políticas de maior qualidade e resultados eleitorais que afastassem os mais que prováveis cenários de instabilidade que se projetam no horizonte da Região. À esquerda, está criado um deserto parlamentar que vai ser extremamente difícil povoar no futuro. PCP e Bloco de Esquerda desapareceram para parte incerta, no Parlamento Regional é que não estarão representados. Quanto ao PS de Paulo Cafôfo, a sua incapacidade política de capitalizar algum do descontentamento gerado pela zanga de comadres no seio do PSD e a humilhação pública a que o Ministério Público sujeitou a Região com aquela armada pífia de investigação judicial que desembarcou no aeroporto do Funchal é gritante e não é bonito de se ver. Perante um resultado que objetivamente no contexto atual é uma derrota, Cafôfo veio a terreiro reivindicar uma governação possível com o partido localista Juntos pelo Povo que sabiamente Alberto João jardim veio classificar como o grande vitorioso da noite eleitoral de ontem. Para quem via no Comércio do Funchal e no grupo de intelectuais e jornalistas que animava o simpático “pink” das notícias e da reflexão política uma esperança para uma Região Autónoma mais liberta dos arcaísmos do então consulado de João Jardim, o deserto à esquerda do PS e a anomia gritante deste último para cativar o eleitorado madeirense fazem-nos pensar com saudade nesses tempos e na real incapacidade de honrar essa tradição de rebeldia insular. Tudo parece ter começado na desastrada aventura da estranha coligação que na presidência de Cafôfo governou o município do Funchal, que foi um balão de ensaio furado, sugerindo aos madeirenses que na dúvida mais valia seguir as pisadas do PSD.)

Não sei explicar com rigor esta secura de rejuvenescimento político à esquerda na Madeira, mas parece-me que, escudado na autonomia regional das forças políticas, o PS nacional nada tem feito de relevante para gerar alguma dinâmica de agitação das águas madeirenses. Não penso que faltem temas para uma nova dinâmica de cooperação à esquerda que possa focar-se, por exemplo, num maior equilíbrio territorial da Região, na recuperação de uma cultura de autonomia rebelde, na denúncia dos níveis agudos de turistificação com sérios danos para o ordenamento territorial costeiro, numa nova geração de políticas sociais e no tema de uma economia mais verde para a Região.

A vinda a terreiro de Paulo Cafôfo reclamando a possibilidade de governar com o Juntos pelo Povo sem condições de maioria parlamentar para fundamentar tal abordagem soou um pouco a patético.

A fuga para a frente de Albuquerque talvez vá desembocar num longo período de instabilidade política regional, sem que à esquerda estejam minimamente criadas as condições para navegar com arte essa instabilidade.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário