(Marian Kamensky, https://www.cartoonmovement.com)
Se mais depressa eu aqui falava de esforços no sentido de aproximações partidárias inter-nacionais na extrema-direita europeia, mais depressa surgiria uma dissensão grave no seio da mesma. No caso, foram declarações do inconcebível cabeça-de-lista da AfD às Europeias (Maximilian Krah, que entretanto se demitiu) a aparente causa imediata da decisão de Marine Le Pen de expulsar o partido alemão do grupo político europeu radical (“Identidade e Democracia”) a que pertencia e onde ela de algum modo pontua (diz-se que em inconfessada partilha com Putin).
Subjacente a esta decisão impulsionada por Le Pen está o período esperançoso que ela atravessa (veja-se abaixo o esmagador avanço nas sondagens europeias de Jordan Bardella do seu Rassemblement National e atente-se na cada vez maior previsibilidade de que ela possa vir a ter sucesso na sua last chance de vencer as Presidenciais Francesas que hão de vir) e que não se compadece com qualquer risco associado a pôr o pé em ramo verde; ou seja, a senhora está em modo de normalização/moderação para francês ver e até o seu look trabalhou cuidadamente nesse sentido, embora não esteja certo de que não gritará uma qualquer atrocidade em comemoração dos resultados do seu RN.
Dito isto, e deixando absolutamente claro que nada me impediria de confessar e admitir um eventual erro analítico (aliás, um facto que não seria inédito), o que entendo é que ambas as coisas são verdadeiras – a extrema-direita mais inteligente está realmente focada numa procura de unidade que a torne uma alternativa forte e capaz de dominar agendas internacionais relevantes, por um lado, e a conjuntura eleitoral europeia está a contribuir para a introdução de um ruído nessa linha que dificulta a sua expressão, por outro – e também não tenho grandes dúvidas de que o pós-9 de junho trará evoluções (ou involuções, mais fidedignamente) significativas naquele processo. Para o que a abertura do PPE e de Ursula a uma espécie de “extrema-direita boa” (como hoje se ouviu distintamente, já com critérios e tudo, no debate entre os spietzenkandidats) será um elemento determinante, constituindo-se também num dado novo e altamente preocupante no quadro de funcionamento da União Europeia do quinquénio 2024/29 – mas isso são contas de um outro rosário que tentarei rezar em oportunidade próxima.
(Marian Kamensky, https://www.cartoonmovement.com)
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