(Não estou tão otimista como os jornais mais próximos do PSOE, que antecipam que as eleições de ontem deixaram para trás o procès e o independentismo, mas partilho a ideia central de que os resultados alcançados pelo Partido Socialista da Catalunha (PSC) de Salvador Illa representam a melhor vitória de Sánchez nos últimos tempos. Vitória porque, como atempadamente antecipei, não se vislumbra qualquer outra alternativa política para conter o independentismo que não a oferecida por Sánchez e pelo PSOE. A proposta da amnistia foi temerária e de risco máximo e negociar em permanência com a viscosidade política de Puigdemont é tarefa de arriscada arte política. Sabemos que a Esquerra Republicana é mais fiável, mas o eleitorado catalão não lhe concede a importância que mereceria e, de novo, a viscosidade do Junts per Catalunya é beneficiada nas urnas com melhores resultados do que a Esquerra. Mas há surpresas à direita, com o PP a mostrar-se vivo na Catalunha, com 15 deputados contra 11 do VOX e assim parecer recuperar alguma da força eleitoral que o hoje desaparecido CIUDADANOS já teve na Catalunha nos bons tempos de Rivera e Arrimadas. Todavia, a investidura de Illa não vai ser fácil e explicarei porquê.)
Uma simples perspetiva aritmética dir-nos-á que os resultados alcançados pelo PSC, adicionados aos votos da Esquerra (20 deputados apenas) e os 6 deputados dos Comuns de Ada Colau bastariam à justa para assumir a maioria absoluta no Parlamento. O problema é que, castigada pela governação e batida pelo Junts, a Esquerra Republicana provavelmente não vai assumir o ónus de suportar a governação do PSC e assim se abrirão novas interrogações à investidura de Illa. As primeiras declarações do derrotado Aragonès vão nesse sentido, afirmando-se preparado para assumir uma perspetiva de oposição no parlamento catalão.
Não me parece difícil antecipar o que significará de volátil e arriscado uma dupla negociação do PSOE com o Junts de Puigdemont: a nível nacional para manter a coligação PSOE-SUMAR e a nível regional para viabilizar a investidura e a governação do PSC. Por isso, acho totalmente precipitado interpretar a vitória de Illa como uma derrota definitiva do procès, embora as forças independentistas estejam hoje reduzidas a pouco mais do que 40%. A força eleitoral de 35 deputados (contra 43 do PSC) do Junts continuará a ser um enorme incómodo, tudo indicando que as raízes da CiU de Pujol parecem ter definitivamente assentado arraiais no partido de Puigdemont, o que explicará a sua força eleitoral, conservada apesar de tudo e traduzindo-se na derrota da Esquerra de Aragonès.
Por isso, antecipo que muita negociação irá ainda ser travada para que haja um governo regional na Catalunha minimamente estável. O que parece não haver dúvidas é que, apesar do relativo ressurgimento do PP na Catalunha com mais 12 deputados relativamente à última eleição, parece cada vez mais evidente que só o PSOE poderá conter o independentismo numa espécie de lusco-fusco mais ou menos quimérico que ora se atiçará, ora sairá enfraquecido em função da dinâmica política nacional e regional.
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