segunda-feira, 13 de maio de 2024

TALVEZ UM NOVO CICLO POLÍTICO NA CATALUNHA?

 

(Não estou tão otimista como os jornais mais próximos do PSOE, que antecipam que as eleições de ontem deixaram para trás o procès e o independentismo, mas partilho a ideia central de que os resultados alcançados pelo Partido Socialista da Catalunha (PSC) de Salvador Illa representam a melhor vitória de Sánchez nos últimos tempos. Vitória porque, como atempadamente antecipei, não se vislumbra qualquer outra alternativa política para conter o independentismo que não a oferecida por Sánchez e pelo PSOE. A proposta da amnistia foi temerária e de risco máximo e negociar em permanência com a viscosidade política de Puigdemont é tarefa de arriscada arte política. Sabemos que a Esquerra Republicana é mais fiável, mas o eleitorado catalão não lhe concede a importância que mereceria e, de novo, a viscosidade do Junts per Catalunya é beneficiada nas urnas com melhores resultados do que a Esquerra. Mas há surpresas à direita, com o PP a mostrar-se vivo na Catalunha, com 15 deputados contra 11 do VOX e assim parecer recuperar alguma da força eleitoral que o hoje desaparecido CIUDADANOS já teve na Catalunha nos bons tempos de Rivera e Arrimadas. Todavia, a investidura de Illa não vai ser fácil e explicarei porquê.)

Uma simples perspetiva aritmética dir-nos-á que os resultados alcançados pelo PSC, adicionados aos votos da Esquerra (20 deputados apenas) e os 6 deputados dos Comuns de Ada Colau bastariam à justa para assumir a maioria absoluta no Parlamento. O problema é que, castigada pela governação e batida pelo Junts, a Esquerra Republicana provavelmente não vai assumir o ónus de suportar a governação do PSC e assim se abrirão novas interrogações à investidura de Illa. As primeiras declarações do derrotado Aragonès vão nesse sentido, afirmando-se preparado para assumir uma perspetiva de oposição no parlamento catalão.

Não me parece difícil antecipar o que significará de volátil e arriscado uma dupla negociação do PSOE com o Junts de Puigdemont: a nível nacional para manter a coligação PSOE-SUMAR e a nível regional para viabilizar a investidura e a governação do PSC. Por isso, acho totalmente precipitado interpretar a vitória de Illa como uma derrota definitiva do procès, embora as forças independentistas estejam hoje reduzidas a pouco mais do que 40%. A força eleitoral de 35 deputados (contra 43 do PSC) do Junts continuará a ser um enorme incómodo, tudo indicando que as raízes da CiU de Pujol parecem ter definitivamente assentado arraiais no partido de Puigdemont, o que explicará a sua força eleitoral, conservada apesar de tudo e traduzindo-se na derrota da Esquerra de Aragonès.

Por isso, antecipo que muita negociação irá ainda ser travada para que haja um governo regional na Catalunha minimamente estável. O que parece não haver dúvidas é que, apesar do relativo ressurgimento do PP na Catalunha com mais 12 deputados relativamente à última eleição, parece cada vez mais evidente que só o PSOE poderá conter o independentismo numa espécie de lusco-fusco mais ou menos quimérico que ora se atiçará, ora sairá enfraquecido em função da dinâmica política nacional e regional.

 

 

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