(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)
Começaram os debates televisivos associados às Europeias de 9 de junho. Sempre dominados pelas imposições da bolha mediática e não deixando de insistir nos erros dos anteriores, sobretudo no que toca à atribuição de notas por comentadores cujo grau de volubilidade e arbitrariedade tende em variar em função de agendas pré-definidas ou encomendadas e de humores dificilmente alcançáveis. Mas uma coisa impensável também aconteceu neste primeiro debate: o facto de, ao contrário do que vinha sendo por tantos anunciado (veja-se, por exemplo, Pacheco Pereira no “Público” de Sábado: “Lamento, mas as eleições europeias serão sobre Portugal”), se ter assistido a um esforço para que os temas focados fossem realmente de natureza eminentemente europeia. Um facto a salientar, mesmo estando eu convencido de que, com o andamento da luta eleitoral e a entrada em cena de partidos menos europeístas e de maior pendor de protesto, se assistirá a um retorno à “nacionalização” dos assuntos em discussão.
E como se comportaram os quatro debatentes? A meu ver, todos genericamente evidenciaram quanto não sabem ao que vão (que se preparem para surpresas imprevistas!), sendo uns mais afoitos no voluntarismo que quiseram exibir (a asneira é livre, caro Sebastião!) e outros algo mais ponderados por via de um posicionamento mais filiado no ideário do grupo político europeu em que se integram (caso de Francisco Paupério e do grupo dos Verdes). Dito isto, foi quase chocante assistir à prestação da cabeça-de-lista do PS (Marta Temido), tornando claro quanto a escolha de Pedro Nuno Santos foi deslocada para o efeito em vista. Já Sebastião Bugalho não engana: tem jeito e à-vontade, vê-se que trabalha muito e é senhor de uma autoconfiança (ou lata?) que parece incomensurável – com ele ao comando, quase apetece acreditar que a Europa será daqui a cinco anos uma realidade bem diferente para melhor do que é hoje! Quanto a Cotrim, mostrou tratar-se de alguém com dotes políticos e diálogo fácil mas peca por ser defensor de ideias proclamatórias e rigidificadas e detentor de um ainda notório desconhecimento essencial dos limites do papel que poderá desempenhar enquanto eurodeputado. Por fim, o jovem do “Livre” acabou por surgir como a surpresa da noite pelo conhecimento que revelou dos dossiês, pela convincente irreverência com que os apresentou e pela abertura com que se soube confrontar com os seus opositores – deixando no ar uma dúvida legítima, e a ter de ser esclarecida, quanto ao porquê do afrontamento surdo que lhe dedicou Rui Tavares.
A terminar, uma nota em sentido contraditório: ficou à vista quão complexo é o tratamento dos temas europeus para os portugueses médios (que foram habituados a falar da União a partir dos milhões de fundos estruturais que por cá têm vindo a pingar), o que surge agravado em debates com aquela configuração de tempo e forma. É nesse sentido que me sinto assaltado por uma dúvida que anteriormente não atingira: a de que, ao fazermos entrar pela porta da frente tais tópicos, talvez acabemos por estar perante um caso típico de ser pior a emenda do que o soneto – ou seja, as audiências ressentir-se-ão, a mobilização eleitoral diminuirá e os ouvidos tenderão a concentrar-se em reter o simples, o direto e o demagógico.
Em tempo, uma pergunta inocente mas indiscreta ao “Público”: por que razão será que a chamada de primeira página do jornal no que se refere ao debate que aqui abordei escolhe uma fotografia de um dos quatro candidatos presentes? Deixo quatro hipóteses: por mera distração, por se tratar da única senhora, para compensar o trauma de uma prestação má ou por se tratar da candidata do PS? É que, e tenha sido lá pelo que tenha sido, o autor da gafe não conseguirá escapar da acusação, justa ou injusta, de a resposta certa estar na última alternativa – com impactos na imagem do “Público” de que não havia mesmo necessidade!
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