A morte de Belmiro de Azevedo corresponde à notícia triste de uma perda para o País, ponto. Tudo quanto se queira acrescentar ao que acima deixo expresso são irrelevâncias essencialmente circunstanciais e mesquinhas. Claro que o Engenheiro Belmiro não era um homem de trato fácil. Claro que o Engenheiro Belmiro não fez tudo bem em vários planos e momentos da sua vida. Claro que o Engenheiro Belmiro não evitava preconcebimentos e enviesamentos. Claro que o Engenheiro Belmiro era teimoso e autoritário. Claro que o Engenheiro Belmiro não era um pensador estruturado e fez frequentemente afirmações infundadas ou acusações injustas, às vezes quase ridículas. Claro.
Mas, tudo visto e ponderado sem necessidade de grandes delongas, Belmiro de Azevedo passou por aí, acertou muito mais do que falhou, fez e deixou obra, foi exemplo a muitos e variados títulos e saiu de cabeça inquestionavelmente levantada. Não me irei estender pelas imensas esferas possíveis de fazer ressaltar, das suas origens humildes do Marco de Canaveses às suas assumidas ligações ao Porto, da Sonae à grande distribuição, da formação como preocupação crescente à fundação do Público, das incursões remuneradoras pela bolsa de valores às tentativas falhadas na área financeira, das telecomunicações ao caso PT, do Colégio Efanor ao mecenato da sua Fundação. Porque talvez a melhor síntese factível num momento destes seja a de apenas observar com critério a sua continuidade filial (vejam-se as similaridades e os antagonismos presentes nos perfis de Paulo, Cláudia e Nuno) e as suas sucessivas levas de continuidades empresariais e gestionárias (os nomes são tão por demais conhecidos quanto insuscetíveis de referenciações e ordenações justas, rigorosas ou até desejáveis).
Acrescento uma curta nota de ordem pessoal: a primeira vez que vi Belmiro de Azevedo foi no velho Campo da Constituição, equipado de azul-e-branco e praticando andebol de onze (culpa do meu pai, que era um ferrinho e que gostava de companhia e de juntar pequenas histórias pessoais ao jogo que se desenrolava à nossa frente). Depois, as vezes e as razões foram diversas, quase sempre marcadas por questões profissionais, políticas ou cívicas. Acho que a última vez que dialogamos foi no Infante de Sagres, quando aceitou participar discreta mas ativamente num debate enquadrado na candidatura à Câmara do Porto que foi protagonizada por Elisa Ferreira contra Rui Rio em 2009.
Termino com um sentimento de incómodo e uma consequente manifestação de protesto. Hoje não era o dia para que um PCP e um BE em fase de objetiva integração no sistema viessem ajustar contas com o capital. Nem para que os jovens turcos do PS se viessem arrogar o direito à crítica, tão alegadamente inteligente quão imaturamente improcedente, ao mais marcante empresário português das últimas décadas. Distinguindo o essencial do acessório, aqui deixo, pois, a minha homenagem a Belmiro de Azevedo...
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