quinta-feira, 16 de novembro de 2017

VALE A PENA TER FORMAÇÃO SUPERIOR?




(No Auditório da Escola de Direito da Universidade do Minho em Braga, um grupo de investigadores da economia do trabalho e da educação apresenta hoje o estudo Ensino Superior: Estudar Compensa?, financiado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, oportunidade para como pai e interessado pelo tema quebrar alguma rotina profissional)

Já há algum tempo, participei também na Universidade do Minho num painel de discussão dinamizado pelos autores do estudo e pela Fundação FMS, na altura representada pelo Professor Carlos Fiolhais, e inserido na metodologia proposta. Já então me pareceu que os resultados seriam promissores e a proximidade paternal a um dos autores, Hugo Figueiredo, permitiu-me acompanhar e sentir as angústias e tensão que um estudo desta natureza sempre implica. Mas o grupo de trabalho que é responsável pela investigação reúne características importantes, como o rigor, a capacidade de combinar as metodologias quantitativas com sensibilidade ao qualitativo, excelente domínio da economia da educação e do trabalho e o que é para mim mais importante entusiasmo pela comunicação da investigação e sentido de presença no debate cívico. E, o que é mais importante, combinando tudo isso com o exercício empenhado das suas funções correntes letivas e de investigação para publicação internacionalmente reconhecida e entre pares. É uma combinação cada vez mais rara entre os chamados “académicos”, universo onde vai faltando sentido de debate público informado e onde impera a dependência aguda pela publicação a todo o custo, tendência induzida pelos estímulos da política pública de apoio à investigação científica e progressão na carreira académica.

É também importante que a Fundação FMS tenha mantido o seu padrão de forte apoio a estes temas, mas neste caso tenha “descentralizado” esse interesse apoiando um grupo de investigadores mais a norte, essencialmente com origem na Universidade do Minho e de Aveiro, com ligação também ao CIPES Centro de Investigação sobre Políticas de Ensino Superior.

Queria destacar a oportunidade de uma investigação que demonstra que o Ensino Superior compensa no contexto que o país vive. Numa altura em que os problemas da empregabilidade ditados pelo resgate da economia portuguesa agudizaram a magnitude da diáspora da qualificação dos jovens portugueses, em que os ventos da precariedade do mercado de trabalho atingiu frontalmente os jovens e em que os gaps salariais face aos referenciais europeus são cada vez mais nítidos, é sempre equacionável que o cálculo económico dos jovens e das suas famílias seja perturbado em matéria de investimentos em formação superior. Temos olimpicamente ignorado que a chamada “paixão pela educação” também se alimenta de incentivos. Para além disso, o contexto em que tudo isto acontece mudou com a chegada crescente da mulher à formação superior, já nos meus derradeiros tempos de docência a presença feminina nos anfiteatros era marcante. E não esquecendo que a sociedade portuguesa teve sempre um trauma implícito sobre os possíveis registos de “sobre-educação”, que não é mais do que uma trágica sequela da baixa qualificação.

Por todas estas razões, a jovem equipa de investigação que está por detrás deste estudo e a Fundação FMS que o apoiou prestam um serviço inestimável à sociedade portuguesa, no momento e no contexto certos, clarificando incentivos e vantagens. O que é um desafio a todas as instituições que oferecem formação superior, quebrando a inércia com que essa oferta é ministrada, adaptando-se a uma procura que vai mudando, mesmo que isso seja incómodo para quem entrou na rotina.

Por isso, hoje, uma tarde diferente, por boas e variadas razões.

1 comentário:

  1. Embora o comentário que vou fazer não tenha diretamente a ver com o texto do António, parece-me que a questão em causa deve ser a última a colocar-se e que os economistas ("ortodoxos", a la Gary Becker) devem ser os últimos a ser ouvidos sobre a questão.
    Lembro-me de um texto de Ha Joon Chang em "23 coisas que não lhe ensinaram sobre o capitalismo" a propósito do assunto em que se sugeria que para a maior parte dos trabalhadores o ensino superior não compensaria em termos económicos, mas que, não obstante, outro tipo de benefícios, eventualmente mais importantes, haveria.

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