(No Auditório da Escola
de Direito da Universidade do Minho em Braga, um grupo de investigadores da economia
do trabalho e da educação apresenta hoje o estudo Ensino Superior: Estudar
Compensa?, financiado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, oportunidade para como pai e interessado pelo
tema quebrar alguma rotina profissional)
Já há algum tempo, participei também na
Universidade do Minho num painel de discussão dinamizado pelos autores do
estudo e pela Fundação FMS, na altura representada pelo Professor Carlos
Fiolhais, e inserido na metodologia proposta. Já então me pareceu que os
resultados seriam promissores e a proximidade paternal a um dos autores, Hugo Figueiredo,
permitiu-me acompanhar e sentir as angústias e tensão que um estudo desta
natureza sempre implica. Mas o grupo de trabalho que é responsável pela
investigação reúne características importantes, como o rigor, a capacidade de
combinar as metodologias quantitativas com sensibilidade ao qualitativo,
excelente domínio da economia da educação e do trabalho e o que é para mim mais
importante entusiasmo pela comunicação da investigação e sentido de presença no
debate cívico. E, o que é mais importante, combinando tudo isso com o exercício
empenhado das suas funções correntes letivas e de investigação para publicação internacionalmente
reconhecida e entre pares. É uma combinação cada vez mais rara entre os
chamados “académicos”, universo onde vai faltando sentido de debate público
informado e onde impera a dependência aguda pela publicação a todo o custo, tendência
induzida pelos estímulos da política pública de apoio à investigação científica
e progressão na carreira académica.
É também importante que a Fundação FMS tenha mantido
o seu padrão de forte apoio a estes temas, mas neste caso tenha “descentralizado”
esse interesse apoiando um grupo de investigadores mais a norte, essencialmente
com origem na Universidade do Minho e de Aveiro, com ligação também ao CIPES Centro
de Investigação sobre Políticas de Ensino Superior.
Queria destacar a oportunidade de uma
investigação que demonstra que o Ensino Superior compensa no contexto que o país
vive. Numa altura em que os problemas da empregabilidade ditados pelo resgate
da economia portuguesa agudizaram a magnitude da diáspora da qualificação dos jovens
portugueses, em que os ventos da precariedade do mercado de trabalho atingiu
frontalmente os jovens e em que os gaps salariais face aos referenciais
europeus são cada vez mais nítidos, é sempre equacionável que o cálculo económico
dos jovens e das suas famílias seja perturbado em matéria de investimentos em
formação superior. Temos olimpicamente ignorado que a chamada “paixão pela
educação” também se alimenta de incentivos. Para além disso, o contexto em que
tudo isto acontece mudou com a chegada crescente da mulher à formação superior,
já nos meus derradeiros tempos de docência a presença feminina nos anfiteatros
era marcante. E não esquecendo que a sociedade portuguesa teve sempre um trauma
implícito sobre os possíveis registos de “sobre-educação”, que não é mais do
que uma trágica sequela da baixa qualificação.
Por todas estas razões, a jovem equipa de
investigação que está por detrás deste estudo e a Fundação FMS que o apoiou prestam
um serviço inestimável à sociedade portuguesa, no momento e no contexto certos,
clarificando incentivos e vantagens. O que é um desafio a todas as instituições
que oferecem formação superior, quebrando a inércia com que essa oferta é
ministrada, adaptando-se a uma procura que vai mudando, mesmo que isso seja incómodo
para quem entrou na rotina.
Por isso, hoje, uma tarde diferente, por boas
e variadas razões.
Embora o comentário que vou fazer não tenha diretamente a ver com o texto do António, parece-me que a questão em causa deve ser a última a colocar-se e que os economistas ("ortodoxos", a la Gary Becker) devem ser os últimos a ser ouvidos sobre a questão.
ResponderEliminarLembro-me de um texto de Ha Joon Chang em "23 coisas que não lhe ensinaram sobre o capitalismo" a propósito do assunto em que se sugeria que para a maior parte dos trabalhadores o ensino superior não compensaria em termos económicos, mas que, não obstante, outro tipo de benefícios, eventualmente mais importantes, haveria.