(O Banco Mundial
acaba de publicar um importante relatório designado de The Innovation Paradox; uma excelente oportunidade para nos
centrarmos nas promessas não totalmente cumpridas de que os investimentos em inovação
compensam em matéria de catching-up face a países mais avançados, ainda que
fundamentalmente se trate de acesso a tecnologia e conhecimento que outros
produzem)
Existe um largo consenso
entre os economistas segundo o qual as diferenças de rendimento per capita entre os países (os de
fronteira e os que pretendem convergir para essa fronteira) são pelo menos
explicadas em 50% pelas diferenças de produtividade entre esses mesmos países. Sabemos
também que a inovação tecnológica e a inovação em geral constituem uma via
segura para que essas diferenças de produtividade se esbatam. O argumento da
disseminação e acesso à difusão da tecnologia como forma de acelerar o processo
de catching-up entre os menos
desenvolvidos e os que comandam a fronteira do conhecimento é, aliás, um dos
grandes argumentos invocados para que as vantagens da abertura se sobreponham à
tentação da autarcia.
O relatório do Banco Mundial
(link aqui) é precioso no sentido de demonstrar que esse catching-up não estará a processar-se ao ritmo consistente com as expectativas
atribuídas à consistência da relação “producing
ideas versus using ideas” para homenagear aqui a originalidade dos
contributos de Paul Romer.
A disseminação das ideias
através da difusão do progresso tecnológico não se reconverte imediatamente ou por
magia em aumentos de produtividade. Exige, por um lado, investimento em equipamentos
e em outros fatores imateriais de inovação e, por outro, condições facilitadoras
como a acumulação de capital humano em competências dos trabalhadores, gestores
e empresários, as condições organizativas das empresas em que esses investimentos
devem ocorrer. E não deve esquecer-se a relevância dos fatores da governação,
sobretudo do ponto de vista como a política de inovação é organizada. Alguns
destes mecanismos de transmissão do efeito da inovação sobre a produtividade
podem sofrer constrangimentos e bloqueamentos. São esses constrangimentos que
podem explicar o tal paradoxo da inovação de que fala o Banco Mundial.
Em que é que tal
paradoxo consiste?
O potencial de difusão
de progresso técnico é hoje imenso, o que significa que o potencial de catching-up o é também. Dizem os
economistas que em economia aberta as externalidades do progresso tecnológico são
elevadíssimas para as economias em desenvolvimento. Mas essas externalidades não
estarão a revelar-se.
Os economistas costumam
raciocinar nos seguintes termos: quanto maior a distância de um país face aos
países de fronteira tecnológica maior o potencial de convergência. Mas o que
parece agora emergir é uma ideia que muitos economistas do desenvolvimento intuíram,
embora não o tenham demonstrado formalizada e rigorosamente. Parece haver um limiar
de desenvolvimento até ao qual esse princípio se aplica. Mas abaixo desse
limiar, os constrangimentos de capital humano, empresariais, de alocação rigorosa
do investimento e organizacionais bloqueiam a transmissão dos efeitos sobre a
produtividade, pelo que estar longe da fronteira não significa maior potencial
de catching-up.
O estudo do Banco Mundial
é importante para uma reflexão sobre os nossos próprios problemas de catching-up tecnológico. Pelos padrões
do Innovation Scoreboard Europeu, Portugal
é um follower moderado. Ou seja,
outros países estarão a convergir tecnologicamente de forma mais rápida. O Portugal
2020 realizou um enorme esforço de investimento em inovação e não poupou também
esforços para que mais investimento em I&D se projetasse na vida das empresas.
Mas ao contrário do que por vezes ressalta das palavras do governo, o esforço de
investimento do PT 2020 não é um esforço de dinamização macroeconómica, intensificando
o investimento tout court. Para que a
programação corresponda ao que dela é esperado, é necessário que os investimentos
em inovação apoiados se traduzam em aumentos de produtividade capazes de reduzir
o gap de produtividade que mantemos em relação à fronteira. Ou seja, para que o
catching-up não se fique pelos pressupostos
da abordagem.
Mas há uma matéria que
convém não ignorar. O investimento que passa pelo PT 2020 não abrange todas as
empresas do país. Numa perspetiva positiva, poderemos admitir que os
investimentos apoiados vão aumentar de facto a produtividade das empresas. Pode
acontecer o contrário ou, pelo menos, não ser um aumento suficientemente forte.
Mas há depois o efeito decorrente sobre a economia não apoiada. O investimento
apoiado não é seguramente uma pequena pedra que se lança no lago, produzindo
uma agitação impercetível das águas. Mas também não é seguramente algo que
provoque uma grande vaga.
Moral da história, não
devemos limitar o interesse pelo investimento apoiado com Fundos Estruturais ao
seu impacto macroeconómico de relançamento do investimento após o período de
crise. Os seus efeitos em termos de produtividade são cruciais. Mas convém não
esquecer o tecido empresarial que não beneficia desses apoios. Também aí se
joga o tal “catching-up”.
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