terça-feira, 7 de novembro de 2017

FED TRUMP OU TRUMP FED (E)





A marca de Donald Trump pelos dossiers da política económica americana tem sido desastrosa pelo primarismo da agenda que as suporta. Questionou e fez implodir o acordo económico-comercial com o México sem evidência clara e segura de que ele fosse desfavorável à economia americana, antes pelo contrário. Criou uma guerra comercial com o Canadá, um dos países com maior interação com a economia americana. Aprovou uma política fiscal em que se sobressaem descidas de impostos que vão beneficiar o 1% mais rico da sociedade americana endividando-se para o fazer, acompanhado de uma descida do IRC para 20%. Ensaiou mais para tweet ver do que outra coisa processos de anulação parcial de deslocalização de empregos de algumas empresas para fora dos EUA sabe-se lá com que contrapartidas e compromissos. Procurou por todas as vias desmantelar o Obama care, estando-se nas tintas para a situação trágica em que uma percentagem significativa da população americana ficaria sem uma alternativa consistente, que não apareceu. Caiu-lhe entretanto nas mãos o fim do mandato de Janet Yellen à frente do FED, que poderia ser renovado entenda-se, e dele tirou partido para uma substituição cuja principal interrogação será a de saber se o FED vai manter a distância necessária face aos delírios trumpianos.

Yellen conseguiu neste período, particularmente difícil de interpretar da economia americana, um sábio equilíbrio entre as diferentes correntes de opinião sobre o tempo de acionamento das subidas das taxas. Um equilíbrio entre os que defendiam subidas imediatas das taxas de referência e os que sustentavam com razão que uma subida precoce de taxas era mais danoso do que uma correção atempada de eventuais tendências inflacionárias. Escudando-se sobretudo na avaliação do grau de não aproveitamento de recursos apesar da recuperação existente na economia americana, sobretudo no mercado de trabalho, e nas condições de instabilidade internacional, só na parte final Yellen cedeu aos impulsos dos primeiros. Preparada, com formação académica sólida, inspirando confiança, Janet Yellen merecia um novo mandato. Mas sendo mulher, académica, sem fortuna aparente e representando um legado de decisões da administração Obama, era um alvo fácil para o real estate developer Donald Trump (Stiglitz diz que uma subida de taxas para estes personagens é um pesadelo, link aqui).

Jerome Powell, pelo contrário, com fortuna avultada, é um advogado, prático da política monetária já alguns anos, com uma visão da política monetária mais moderada do que os republicanos imaginariam ou desejassem à frente dos destinos do banco central americano. Não se lhe conhece, entretanto, nenhuma posição marcante ou diferenciada em matéria de política monetária, tal como acontece com outros membros que pesam na decisão do FED. E a principal interrogação é a de saber se o FED vai manter a distância face aos possíveis avanços de Trump. Não é coisa pouca atendendo ao personagem.

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