A marca de Donald Trump
pelos dossiers da política económica americana tem sido desastrosa pelo
primarismo da agenda que as suporta. Questionou e fez implodir o acordo económico-comercial
com o México sem evidência clara e segura de que ele fosse desfavorável à economia
americana, antes pelo contrário. Criou uma guerra comercial com o Canadá, um
dos países com maior interação com a economia americana. Aprovou uma política
fiscal em que se sobressaem descidas de impostos que vão beneficiar o 1% mais
rico da sociedade americana endividando-se para o fazer, acompanhado de uma
descida do IRC para 20%. Ensaiou mais para tweet
ver do que outra coisa processos de anulação parcial de deslocalização de
empregos de algumas empresas para fora dos EUA sabe-se lá com que contrapartidas
e compromissos. Procurou por todas as vias desmantelar o Obama care, estando-se
nas tintas para a situação trágica em que uma percentagem significativa da
população americana ficaria sem uma alternativa consistente, que não apareceu. Caiu-lhe
entretanto nas mãos o fim do mandato de Janet Yellen à frente do FED, que poderia
ser renovado entenda-se, e dele tirou partido para uma substituição cuja
principal interrogação será a de saber se o FED vai manter a distância necessária
face aos delírios trumpianos.
Yellen conseguiu neste
período, particularmente difícil de interpretar da economia americana, um sábio
equilíbrio entre as diferentes correntes de opinião sobre o tempo de acionamento
das subidas das taxas. Um equilíbrio entre os que defendiam subidas imediatas
das taxas de referência e os que sustentavam com razão que uma subida precoce
de taxas era mais danoso do que uma correção atempada de eventuais tendências
inflacionárias. Escudando-se sobretudo na avaliação do grau de não
aproveitamento de recursos apesar da recuperação existente na economia
americana, sobretudo no mercado de trabalho, e nas condições de instabilidade
internacional, só na parte final Yellen cedeu aos impulsos dos primeiros. Preparada,
com formação académica sólida, inspirando confiança, Janet Yellen merecia um novo
mandato. Mas sendo mulher, académica, sem fortuna aparente e representando um legado
de decisões da administração Obama, era um alvo fácil para o real estate developer Donald Trump
(Stiglitz diz que uma subida de taxas para estes personagens é um pesadelo, link aqui).
Jerome Powell, pelo
contrário, com fortuna avultada, é um advogado, prático da política monetária já
alguns anos, com uma visão da política monetária mais moderada do que os republicanos
imaginariam ou desejassem à frente dos destinos do banco central americano. Não
se lhe conhece, entretanto, nenhuma posição marcante ou diferenciada em matéria
de política monetária, tal como acontece com outros membros que pesam na decisão
do FED. E a principal interrogação é a de saber se o FED vai manter a distância
face aos possíveis avanços de Trump. Não é coisa pouca atendendo ao personagem.
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