quarta-feira, 8 de novembro de 2017

TECNOLOGIA VERSUS COMÉRCIO EXTERNO





Tecnologia e comércio externo (dimensão económica da globalização) têm disputado influência na explicação do comportamento do emprego nas economias avançadas. Está em causa o desaparecimento de empregos na indústria transformadora, no que muitos chamam desindustrialização, por vezes precoce, ou seja mais intensa do que o nível de desenvolvimento económico poderia sugerir. Regra geral, nas economias de maior expressão espacial, essas perdas de emprego são territorialmente concentradas, como por exemplo nos distritos americanos do desespero que a perfídia de Trump tanto explorou para a sua vitória eleitoral.

Como muitas vezes acontece em economia, há fenómenos que se ocultam entre si, dificultando o seu isolamento. De facto, uma das principais vias pelas quais uma dada tecnologia inovadora e disruptiva provoca a destruição de empregos concretiza-se através de uma dada importação. É um caso típico no qual comércio externo e tecnologia surgem imbricados. Mas há casos de autonomia de produção de efeitos. Por via da tecnologia, isso acontece com a emergência de uma tecnologia disruptiva num dado país que tem capacidade para a produzir em termos económicos que pode afetar negativamente o emprego se os novos postos de trabalho que cria forem inferiores aos que destrói. Por via do comércio externo, basta pensar no exemplo tradicional de uma atividade manufatureira que deixa de produzir pelo facto de importações a mais baixo custo provenientes do exterior, com quedas de emprego superiores aos trabalhadores que conseguem ocupação numa outra atividade.

Mas há um pormenor que por vezes ignoramos. É mais fácil culpar o comércio externo (globalização económica) pela perda dos empregos do que a tecnologia. Não parece haver hoje tendência para destruir o inimigo máquinas. Os congéneres dos luditas parecem não existir. Não se imagina em plena WEB SUMMIT uma fogueira simbólica para queimar robots. A tecnologia atrai, quanto mais sofisticada melhor. O apelo do gadget é, por vezes, irresistível. Para além disso, é bem menos provável um defensor dos direitos humanos interrogar-se sobre as condições de produção de uma peça de vestuário na Ásia longínqua, pensando nas condições de trabalho, do que fazer o mesmo perante a última versão do gadget dos nossos encantos. Mas é fácil culpar o comércio externo. Veja-se como o primarismo de Trump ganhou espaço e se amplificou eleitoralmente.


Embora o World Trade Report 2017 assuma uma posição muito defensiva sobre a controvérsia, limitando-se a enunciar vantagens e inconvenientes dos dois processos, há um predomínio de evidência empírica que nos alerta para que a decomposição do efeito comércio e do efeito tecnologia culpe mais este último pela perda de empregos. Ou seja, quem é mais fácil de abater é provavelmente o que tem menor culpa no cartório. Mas os efeitos dinâmicos de ambos são tão complexos que é aconselhável prudência na mobilização desses resultados.

Ver post anterior: https://interesseseaccao.blogspot.pt/2017/11/globalizacao-delong-versus-rodrik.html.

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