Tecnologia e comércio
externo (dimensão económica da globalização) têm disputado influência na
explicação do comportamento do emprego nas economias avançadas. Está em causa o
desaparecimento de empregos na indústria transformadora, no que muitos chamam
desindustrialização, por vezes precoce, ou seja mais intensa do que o nível de
desenvolvimento económico poderia sugerir. Regra geral, nas economias de maior
expressão espacial, essas perdas de emprego são territorialmente concentradas, como
por exemplo nos distritos americanos do desespero que a perfídia de Trump tanto
explorou para a sua vitória eleitoral.
Como muitas vezes
acontece em economia, há fenómenos que se ocultam entre si, dificultando o seu
isolamento. De facto, uma das principais vias pelas quais uma dada tecnologia
inovadora e disruptiva provoca a destruição de empregos concretiza-se através
de uma dada importação. É um caso típico no qual comércio externo e tecnologia surgem
imbricados. Mas há casos de autonomia de produção de efeitos. Por via da tecnologia,
isso acontece com a emergência de uma tecnologia disruptiva num dado país que
tem capacidade para a produzir em termos económicos que pode afetar negativamente
o emprego se os novos postos de trabalho que cria forem inferiores aos que
destrói. Por via do comércio externo, basta pensar no exemplo tradicional de uma
atividade manufatureira que deixa de produzir pelo facto de importações a mais
baixo custo provenientes do exterior, com quedas de emprego superiores aos trabalhadores
que conseguem ocupação numa outra atividade.
Mas há um pormenor que
por vezes ignoramos. É mais fácil culpar o comércio externo (globalização económica)
pela perda dos empregos do que a tecnologia. Não parece haver hoje tendência para
destruir o inimigo máquinas. Os congéneres dos luditas parecem não existir. Não se imagina em plena WEB SUMMIT uma
fogueira simbólica para queimar robots. A tecnologia atrai, quanto mais sofisticada
melhor. O apelo do gadget é, por vezes,
irresistível. Para além disso, é bem menos provável um defensor dos direitos humanos
interrogar-se sobre as condições de produção de uma peça de vestuário na Ásia
longínqua, pensando nas condições de trabalho, do que fazer o mesmo perante a última
versão do gadget dos nossos encantos. Mas é fácil culpar o comércio externo. Veja-se
como o primarismo de Trump ganhou
espaço e se amplificou eleitoralmente.
Embora o World Trade Report
2017 assuma uma posição muito defensiva sobre a controvérsia, limitando-se a
enunciar vantagens e inconvenientes dos dois processos, há um predomínio de
evidência empírica que nos alerta para que a decomposição do efeito comércio e
do efeito tecnologia culpe mais este último pela perda de empregos. Ou seja,
quem é mais fácil de abater é provavelmente o que tem menor culpa no cartório. Mas
os efeitos dinâmicos de ambos são tão complexos que é aconselhável prudência na
mobilização desses resultados.
Ver post anterior: https://interesseseaccao.blogspot.pt/2017/11/globalizacao-delong-versus-rodrik.html.
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