domingo, 12 de novembro de 2017

O FASCÍNIO DA TECNOLOGIA




É para mim, de facto, uma evidência que a sociedade portuguesa começa a ficar irritantemente previsível e recorrente. Poderia falar da sucessão de inúmeras fragilidades estruturais que se têm revelado nos últimos tempos, de má memória recente, e sobre as quais ainda não construímos um “manual de reação e de procedimentos” à altura das exigências. Mas não é isso que hoje me traz a este espaço. É antes a nossa incapacidade de gerar uma posição equilibrada e compatível com um país que não está na fronteira da tecnologia relativamente a temas como a WEB SUMMIT e o empreendedorismo tecnológico.

A dimensão e impacto destes eventos mais ou menos globalizados é inversamente proporcional à dimensão do país. É muito mais isso do que o tão apregoado “parolismo” nacional relativamente aos encantos do evento. É nessa medida que uma cidade de Lisboa que se reivindica do seu estatuto cosmopolita, pelo facto de ser uma capital de um país pequeno, e que o tende a reduzir à sua imagem e semelhança, ela própria padece desse efeito de dimensão.

O desequilíbrio do confronto está entre os que se derretem por ficar associados na fotografia ao evento e os que os rejeitam, situando-se numa pretensa posição olímpica de isto ser tudo uma cambada de doidinhos impressionados pela força sedutora da tecnologia e dos seus gadgets.

No país que somos recomendar-se-ia uma posição mais equilibrada e sensata. O mundo globalizado dos start-up’s tecnológicos está aí, cada vez mais vibrante, trazendo atrás de si um perigoso e desviante estreitamento do fenómeno do entrepreneurship em torno dos temas da tecnologia e do seu caráter potencialmente lucrativo, claro está apenas para os que conseguem ultrapassar o calvário da transformação de uma ideia tecnológica num produto com pernas para andar no mercado. O capital de risco global está obviamente vidrado neste mundo, com um scan permanente do que se vai passando em termos de incubadoras, aceleradoras de investimento, parques de ciência e tecnologia e outros ecossistemas voltados para os start-up’s tecnológicos. Num país que está condenado a ser um follower dos que comandam a progressão tecnológica (e ser um bom follower como, por exemplo, países como a Coreia do Sul o foram é algo de crucial), ter os seus ecossistemas de empreendedorismo tecnológico no radar do capital de risco global e fórmulas quejandas não é coisa pouca. É algo de fundamental para que o empreendedorismo tecnológico nacional possa entrar em cadeias de valor mais globais, mas daí a dizer que está aqui a salvação da economia nacional é um grande passo. Até aqui, tudo é compreensível. Inscrever Lisboa nesse universo tem sentido e a passagem da WEB SUMMIT de Dublin para a capital vale a pena trabalhá-la para garantir as externalidades associadas ao evento.

O que parece arriscado é confundir modernidade com esta dimensão, não entendendo que a tecnologia exige outras coevoluções, de tipo organizativo, em matéria de qualificações, de instituições. E, de facto, temos de convir que a economia portuguesa está institucionalmente aquém da sua performance em termos de desempenho tecnológico. Não acreditem nos efeitos de disseminação a partir de um universo que não deixa de ser algo de limitado no panorama das nossas forças produtivas, como se dizia antigamente.

Por todas estas razões, há um equilíbrio entre as posições de fascínio acrítico pela tecnologia e os que tendem a ver neste universo o reflexo do “parolismo nacional”. Mas não é fácil alcança-lo. O poder e a governação devem dar o exemplo. Não me parece que deixar envolver o simbolismo do Panteão em toda esta algazarra seja um exemplo dessa sensatez.

Sem comentários:

Enviar um comentário