É para mim, de facto,
uma evidência que a sociedade portuguesa começa a ficar irritantemente previsível
e recorrente. Poderia falar da sucessão de inúmeras fragilidades estruturais
que se têm revelado nos últimos tempos, de má memória recente, e sobre as quais
ainda não construímos um “manual de reação e de procedimentos” à altura das exigências.
Mas não é isso que hoje me traz a este espaço. É antes a nossa incapacidade de
gerar uma posição equilibrada e compatível com um país que não está na
fronteira da tecnologia relativamente a temas como a WEB SUMMIT e o empreendedorismo
tecnológico.
A dimensão e impacto
destes eventos mais ou menos globalizados é inversamente proporcional à dimensão
do país. É muito mais isso do que o tão apregoado “parolismo” nacional relativamente aos encantos do evento. É nessa medida
que uma cidade de Lisboa que se reivindica do seu estatuto cosmopolita, pelo facto
de ser uma capital de um país pequeno, e que o tende a reduzir à sua imagem e semelhança,
ela própria padece desse efeito de dimensão.
O desequilíbrio do confronto
está entre os que se derretem por ficar associados na fotografia ao evento e os
que os rejeitam, situando-se numa pretensa posição olímpica de isto ser tudo uma
cambada de doidinhos impressionados pela força sedutora da tecnologia e dos
seus gadgets.
No país que somos
recomendar-se-ia uma posição mais equilibrada e sensata. O mundo globalizado dos
start-up’s tecnológicos está aí, cada
vez mais vibrante, trazendo atrás de si um perigoso e desviante estreitamento do
fenómeno do entrepreneurship em torno
dos temas da tecnologia e do seu caráter potencialmente lucrativo, claro está
apenas para os que conseguem ultrapassar o calvário da transformação de uma
ideia tecnológica num produto com pernas para andar no mercado. O capital de
risco global está obviamente vidrado neste mundo, com um scan permanente do que
se vai passando em termos de incubadoras, aceleradoras de investimento, parques
de ciência e tecnologia e outros ecossistemas voltados para os start-up’s tecnológicos. Num país que
está condenado a ser um follower dos
que comandam a progressão tecnológica (e ser um bom follower como, por exemplo, países como a Coreia do Sul o foram é
algo de crucial), ter os seus ecossistemas de empreendedorismo tecnológico no
radar do capital de risco global e fórmulas quejandas não é coisa pouca. É algo
de fundamental para que o empreendedorismo tecnológico nacional possa entrar em
cadeias de valor mais globais, mas daí a dizer que está aqui a salvação da
economia nacional é um grande passo. Até aqui, tudo é compreensível. Inscrever
Lisboa nesse universo tem sentido e a passagem da WEB SUMMIT de Dublin para a
capital vale a pena trabalhá-la para garantir as externalidades associadas ao
evento.
O que parece arriscado é
confundir modernidade com esta dimensão, não entendendo que a tecnologia exige
outras coevoluções, de tipo organizativo, em matéria de qualificações, de
instituições. E, de facto, temos de convir que a economia portuguesa está
institucionalmente aquém da sua performance em termos de desempenho tecnológico.
Não acreditem nos efeitos de disseminação a partir de um universo que não deixa
de ser algo de limitado no panorama das nossas forças produtivas, como se dizia
antigamente.
Por todas estas razões,
há um equilíbrio entre as posições de fascínio acrítico pela tecnologia e os
que tendem a ver neste universo o reflexo do “parolismo nacional”. Mas não é fácil
alcança-lo. O poder e a governação devem dar o exemplo. Não me parece que
deixar envolver o simbolismo do Panteão em toda esta algazarra seja um exemplo
dessa sensatez.
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