Do desvairado 1-O à data
de 21-D em que as eleições regionais estão marcadas muito aconteceu e irá acontecer e agrada-me
reconhecer que praticamente todas as minhas intuições estavam, tragicamente,
certas.
No meu último post, anotei que neste xadrez de proporções
estranhas Rajoy e o governo PP marcaram pontos com a marcação das eleições
regionais, dando com essa vertente, uma dimensão diferente à decisão que todos queriam
evitar do 155º. Marcaram pontos, validados sobretudo com a reação das forças
independentistas de aceitarem ir a eleições. Mas nunca me ouviram falar de xeque-mate
ou coisa parecida. Nesta contenda dificilmente haverá vencedores e vencidos,
poderá isso sim haver situações de jogo em que seja possível antecipar vencedores
e vencidos, mas no fim do jogo dificilmente os haverá. Mas então porquê?
Sabemos que o radicalismo
do Junts pel Sí (Esquerda Republicana e PD de Cat) e da CUP bebeu do seu próprio
veneno e meteu-se por ruelas demasiado perigosas para sua capacidade política.
Hoje, a aliança independentista no Parlament está rompida. O melhor indicador é
esta cena de Puigdemont se quedar por Bruxelas em busca de um exílio redentor
que ninguém lhe facilitou e outros membros da aliança estarem hoje a responder
perante a justiça espanhola, sendo ouvidos no rescaldo da aplicação do 155. Oriol
Junqueras, líder da ER e talvez o único peso pesado das hostes, apressou-se a
comunicar aos catalães que iriam tomar conhecimento nos próximos tempos de
decisões aparentemente incompreensíveis. O peso pesado (politica e fisicamente)
lá sabia do que estava a falar. Se a aliança independentista está rompida, isso
também é visível entre a população que se reivindica desse sentimento, tal como
pode ser anotado a partir de simples entrevistas ao acaso nas televisões.
Mas tudo isto não pode
fazer-nos esquecer o que significa o independentismo, designadamente o de boa-fé,
ele existe e não é imediatamente abalável por esta ópera bufa que o radicalismo
ofereceu de graça aos espectadores. Embora as sondagens valham o que valham, parece
ainda não haver números que sinalizem que o rompimento da aliança política independentista
se traduza numa quebra significativa da hierarquia do voto político na
Catalunha. Quando muito, a relação de forças tenderá a alterar-se no interior
do próprio independentismo. Arrisco que a ER ganhará força face ao PD de Cat (ex-
Convergência i Unión, como as coisas mudaram!) e face ao radicalismo da CUP e
provavelmente Ada Colay alcalde Barcelona não resistiria a umas eventuais eleições
locais. Em meu entender, isto evidencia sérios problemas de representação política
na Catalunha. Primeiro, o independentismo de boa-fé sente-se não representado e,
do mal o menos, apoia a ER. Por outro lado, as forças políticas que poderiam
representar e apoiar fortemente o catalanismo não independentista continuam a
demonstrar um défice de representação. Os populares mais modernos que o PP de Madrid
e mais sensíveis, rejeitando-a, à corrupção continuam a apoiar-se no CIUDADANOS.
O catalanismo mais progressista continua à espera de um PSC (socialistas catalães
que substituem na região PSOE) menos ambíguo e mais determinado.
Por isso, do 1-O ao 21-D
muita água correrá, mas pode acontecer que o independentismo não saia
fortemente beliscado desta ópera bufa e teremos de novo após essa data o
problema central para resolver. E aí, com a autonomia regional reposta, talvez
outros protagonistas sejam necessários para intuir a solução e conduzir o
processo a melhor porto, o que talvez passe por eleições nacionais.
Sem comentários:
Enviar um comentário