quinta-feira, 2 de novembro de 2017

DO 1-O AO 21-D





Do desvairado 1-O à data de 21-D em que as eleições regionais estão marcadas muito aconteceu e irá acontecer e agrada-me reconhecer que praticamente todas as minhas intuições estavam, tragicamente, certas.

No meu último post, anotei que neste xadrez de proporções estranhas Rajoy e o governo PP marcaram pontos com a marcação das eleições regionais, dando com essa vertente, uma dimensão diferente à decisão que todos queriam evitar do 155º. Marcaram pontos, validados sobretudo com a reação das forças independentistas de aceitarem ir a eleições. Mas nunca me ouviram falar de xeque-mate ou coisa parecida. Nesta contenda dificilmente haverá vencedores e vencidos, poderá isso sim haver situações de jogo em que seja possível antecipar vencedores e vencidos, mas no fim do jogo dificilmente os haverá. Mas então porquê?

Sabemos que o radicalismo do Junts pel Sí (Esquerda Republicana e PD de Cat) e da CUP bebeu do seu próprio veneno e meteu-se por ruelas demasiado perigosas para sua capacidade política. Hoje, a aliança independentista no Parlament está rompida. O melhor indicador é esta cena de Puigdemont se quedar por Bruxelas em busca de um exílio redentor que ninguém lhe facilitou e outros membros da aliança estarem hoje a responder perante a justiça espanhola, sendo ouvidos no rescaldo da aplicação do 155. Oriol Junqueras, líder da ER e talvez o único peso pesado das hostes, apressou-se a comunicar aos catalães que iriam tomar conhecimento nos próximos tempos de decisões aparentemente incompreensíveis. O peso pesado (politica e fisicamente) lá sabia do que estava a falar. Se a aliança independentista está rompida, isso também é visível entre a população que se reivindica desse sentimento, tal como pode ser anotado a partir de simples entrevistas ao acaso nas televisões.

Mas tudo isto não pode fazer-nos esquecer o que significa o independentismo, designadamente o de boa-fé, ele existe e não é imediatamente abalável por esta ópera bufa que o radicalismo ofereceu de graça aos espectadores. Embora as sondagens valham o que valham, parece ainda não haver números que sinalizem que o rompimento da aliança política independentista se traduza numa quebra significativa da hierarquia do voto político na Catalunha. Quando muito, a relação de forças tenderá a alterar-se no interior do próprio independentismo. Arrisco que a ER ganhará força face ao PD de Cat (ex- Convergência i Unión, como as coisas mudaram!) e face ao radicalismo da CUP e provavelmente Ada Colay alcalde Barcelona não resistiria a umas eventuais eleições locais. Em meu entender, isto evidencia sérios problemas de representação política na Catalunha. Primeiro, o independentismo de boa-fé sente-se não representado e, do mal o menos, apoia a ER. Por outro lado, as forças políticas que poderiam representar e apoiar fortemente o catalanismo não independentista continuam a demonstrar um défice de representação. Os populares mais modernos que o PP de Madrid e mais sensíveis, rejeitando-a, à corrupção continuam a apoiar-se no CIUDADANOS. O catalanismo mais progressista continua à espera de um PSC (socialistas catalães que substituem na região PSOE) menos ambíguo e mais determinado.

Por isso, do 1-O ao 21-D muita água correrá, mas pode acontecer que o independentismo não saia fortemente beliscado desta ópera bufa e teremos de novo após essa data o problema central para resolver. E aí, com a autonomia regional reposta, talvez outros protagonistas sejam necessários para intuir a solução e conduzir o processo a melhor porto, o que talvez passe por eleições nacionais.


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