(A dimensão dramática
do futebol plasmada nas lágrimas do eterno Buffon, incomodado com o impacto social
da eliminação da sua equipa, mostra
que por mais tropelias de que seja alvo ele está muito para além dos interesses
que o capturaram)
O Itália-Suécia de ontem tinha tudo para uma
carga dramática digna de uma ópera. O sentido trágico dos italianos, num San Ciro
repleto (em Roma ainda seria mais dramático), com necessidade de recuperação de
pelo menos um golo, frente a uns suecos, disciplinados, com 10+1, isto é, Forsberg
(cuja inteligência de jogo fez mossa em Sérgio Conceição em Leipzig) mais dez,
anunciava tudo isto. Sobretudo, porque no futebol também há crises de identidade
e a Itália atravessa uma típica crise de identidade, no modelo de jogo da sua
liga, na sucessão de valores, na inexistência de jogadores que liderem, que atribuam
sentido ao jogo e que comandem a partir da criatividade.
Num jogo desta natureza, divido-me sempre. Entre
identificar-me com a sabedoria tática de uma Itália mesmo em crise de
identidade (ver a Itália de outros tempos a defender, basculando, é das coisas
mais bonitas de se ver num estádio de futebol) e reconhecer a valentia e
disciplina dos suecos (memória afetiva dos suecos do meu SLB de outros tempos,
como Schwartz, Stromberg, Magnusson e um centro campista que se me varreu da
memória, Jonas Thern, sim era esse). Pois ontem, à medida que as investidas dos italianos eram travadas na
barreira sueca e na segurança de Olsen e que Frosberg criava algum pânico na
defesa italiana quando se lhe oferecia uma oportunidade (rara), percebia-se que
o fim seria dramático, apesar do desequilíbrio de posse de bola, 75% contra
25%. E foi dramático. O vazio da liderança criativa na equipa italiana é
demasiado marcante, alguns aprendizes de feiticeiros não fazem a mancha de um
Pirlo ou de um Baggio e na defesa, mesmo que apoiada na força da Juve, as
sombras de Barese ou Maldini pairavam por ali.
E no drama consumado emerge a grandeza de um
Grande, Buffon, desfeito em lágrimas, mais incomodado pelo facto de terem falhado
um compromisso social com os italianos do que propriamente por acabar a sua carreira
na Squadra Azzurra com uma não classificação para o mundial de 2018.
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