(New York Times, link aqui)
Tinha-me atribuído o
compromisso de descansar um pouco da questão catalã, porque me incomoda que a
caminhada para as eleições de 21-D aconteça com gente presa, irresponsável e
perigosa, mas presa, constituindo-se em rastilho para os defensores do
independentismo. José Ignacio Torreblanca, um jornalista com visões sensatas,
interrogava-se hoje no El País, questionando uma coisa simples mas terrível:
será possível manter cerca de dois milhões de cidadãos permanentemente
frustrados. E embora saibamos como o radicalismo independentista explorou essa
antecipação de frustração, cultivando-a a preceito, a verdade é que o problema
está lá, mesmo que não haja evidência de que a percentagem de eleitores
independentistas não tem dado sinais de progredir para além do intervalo entre
os 40 e os 45%. Candidatos em prisão, algo que é uma consequência judicial de
comportamentos assumidos pelos próprios com clara perceção das consequências, é
um capital eleitoral que o governo espanhol não sei se está a avaliar
devidamente.
Mas a minha quebra do
compromisso assumido tem que ver com notícias provenientes de serviços
especializados da Comissão Europeia, segundo os quais há prova suficiente de
intervenção russa na criação de um caos informacional sobre a Catalunha, com
evidências de uma bateria de notícias completamente falsas, premeditadamente
colocadas no auge da rebeldia radical independentista. Não me parece que se
trate de fantasia da arte da contrainformação ou qualquer cedência a pulsões
cabalísticas. A Rússia informática está mesmo a trabalhar nessa direção,
sugerindo um paradigma premeditado de agitação noticiosa, capaz de ser ampliada
pela via conhecida das redes sociais do desvario e do descontrolo. Não se
conhecem certamente as origens dessa premeditação e difícil será provar a sua
ligação seja ao regime de Putin ou pelo menos a algumas dos seus círculos mais
afastados, seja ao próprio radicalismo independentista. É bom que a Europa se
preocupe com esta matéria, pois o caldinho está preparado em alguns países da União
para outros tirarem partido, explorando entre outras coisas a demência doa que
teimam em falar de autodeterminação na matéria catalã.
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