quinta-feira, 9 de novembro de 2017

O CATALANISMO RUSSO

(New York Times, link aqui)



Tinha-me atribuído o compromisso de descansar um pouco da questão catalã, porque me incomoda que a caminhada para as eleições de 21-D aconteça com gente presa, irresponsável e perigosa, mas presa, constituindo-se em rastilho para os defensores do independentismo. José Ignacio Torreblanca, um jornalista com visões sensatas, interrogava-se hoje no El País, questionando uma coisa simples mas terrível: será possível manter cerca de dois milhões de cidadãos permanentemente frustrados. E embora saibamos como o radicalismo independentista explorou essa antecipação de frustração, cultivando-a a preceito, a verdade é que o problema está lá, mesmo que não haja evidência de que a percentagem de eleitores independentistas não tem dado sinais de progredir para além do intervalo entre os 40 e os 45%. Candidatos em prisão, algo que é uma consequência judicial de comportamentos assumidos pelos próprios com clara perceção das consequências, é um capital eleitoral que o governo espanhol não sei se está a avaliar devidamente.

Mas a minha quebra do compromisso assumido tem que ver com notícias provenientes de serviços especializados da Comissão Europeia, segundo os quais há prova suficiente de intervenção russa na criação de um caos informacional sobre a Catalunha, com evidências de uma bateria de notícias completamente falsas, premeditadamente colocadas no auge da rebeldia radical independentista. Não me parece que se trate de fantasia da arte da contrainformação ou qualquer cedência a pulsões cabalísticas. A Rússia informática está mesmo a trabalhar nessa direção, sugerindo um paradigma premeditado de agitação noticiosa, capaz de ser ampliada pela via conhecida das redes sociais do desvario e do descontrolo. Não se conhecem certamente as origens dessa premeditação e difícil será provar a sua ligação seja ao regime de Putin ou pelo menos a algumas dos seus círculos mais afastados, seja ao próprio radicalismo independentista. É bom que a Europa se preocupe com esta matéria, pois o caldinho está preparado em alguns países da União para outros tirarem partido, explorando entre outras coisas a demência doa que teimam em falar de autodeterminação na matéria catalã.

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