quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

ABRINDO ALGUMAS HOSTILIDADES...


Com a ajuda do excelente trabalho de síntese que é o “Relatório do Desenvolvimento & Coesão”, divulgado a meio do mês passado pela Agência para o Desenvolvimento e Coesão” sob coordenação de Duarte Rodrigues e António Ramos, identifico neste post aquele que me parece estar vocacionado para se tornar o grande problema atual da economia portuguesa quando lida a partir do seu centro geográfico, intelectual e político: a visível quebra da Área Metropolitana de Lisboa no concerto das NUTS II portuguesas ao longo deste século e, sobretudo, após a crise de 2008.

A preocupação já vinha sendo anunciada de há algum tempo para cá por vários arautos do desenvolvimentismo centralista. O meu amigo Augusto Mateus terá sido um dos primeiros e mais competentes de entre eles, no quadro de uma argumentação tão provocatória quanto ardilosa que veio repetir numa peça publicada no início de dezembro nas páginas do “Público” (“Coesão sem convergência para a Europa não interessa para nada”). Cito um excerto sintomático: “Estamos a dar cabo da convergência de Portugal com a UE porque estamos a dar cabo de Lisboa”.

Não se está assim claramente focado numa valorização da análise económica em detrimento das evidências empíricas, antes se procuram replicar indemonstráveis sofisticações estatísticas (como sejam as associadas ao papel das regiões-capital no desenvolvimento das nações). Como não se está também suficientemente interessado em sublinhar devidamente o facto de aquela quebra acontecer depois de materializada uma situação acumulada e insustentável em que Lisboa se tornou tudo e o resto virou paisagem – veja-se o ponto de partida de 2000 (ou mesmo de 2008) em que se observa uma espécie de Lisboa e mais dez ou Lisboa contra o resto do mundo, recorrendo a imagens provenientes de outras áreas. Como não se está ainda minimamente perturbado com o modelo económico nacional que nos trouxe até aqui – e este aqui refere-se à divergência do País face à UE no século XXI – ou com uma perspetiva crítica sobre aquele que melhores garantias dá em termos de pujança e estabilidade do nosso processo de crescimento – então e a desgraça dos não transacionáveis?

Abaixo, outra forma de apresentação da mesma realidade, seguida de um complemento baseado nas NUTS III e elucidando uma outra deriva (o Alentejo Litoral a ultrapassar a Área Metropolitana de Lisboa em termos de PIBpc) suscetível de preocupação para alguns e merecedora de avaliação metodológica e substantiva para outros. Assuntos, estes e aqueles, a que voltarei oportunamente.


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