quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

SERÁ QUE ESTAMOS A FICAR MENOS INTELIGENTES?



(Tim Taylor no Conversable Economist é uma fonte permanente de problematização de novas ideias e de novas evidências trazidas por resultados de investigação. A evolução do QI e das suas causas é uma dessas matérias.)

Já perceberam que tenho uma especial afeição pelo Conversable Economist e pelo seu autor, Timothy Taylor, gestor de edição de uma das mais prestigiadas revistas de economia, o Journal of Economic Perspectives, americana, claro está.

O Conversable Economist é uma fonte permanente de novas ideias, alinhando com o que entendo dever ser a economia, rigorosa mas sempre aberta à fertilização cruzada com outras perspetivas disciplinares e não abdicando de contribuir para a compreensão dos desafios do nosso tempo.

O post do passado dia 15 (link aqui) retoma uma questão que tem permanecido relativamente misteriosa. O mistério não resulta da ausência de explicações, mas antes do facto de nenhuma explicação se ter imposto às demais. A questão é conhecida na ciência por “Flynn effect”, reconhecendo o contributo de James Flynn, essencialmente ligado à psicologia e ao estudo da inteligência humana, professor na Universidade de Otago na Nova Zelândia. São conhecidas as análises de Flynn sobre o crescimento progressivo da inteligência humana medida pela evolução do QI em universos humanos de grande magnitude sujeitos a esse tipo de testes. A investigação de Flynn tem suscitado a interrogação de saber, em primeiro lugar, se o aumento progressivo do QI pode ou não constituir o resultado de um “bias” introduzido pelos próprios testes que procuram medir o referido QI. Não se registando evidência pertinente para admitir este “bias”, o mistério não desaparece pois a explicação dos resultados do aumento do QI tem suscitado uma imensa controvérsia. Fatores como a melhoria das condições de nutrição (como isso foi importante na sociedade portuguesa!), a evolução das próprias metodologias e contextos de ensino e aprendizagem ou e evolução de contexto, determinando em termos evolucionistas o maior apelo às competências cognitivas, têm-se confrontado para explicara referida evidência. Talvez se verifique um predomínio das explicações que valorizam essencialmente o contexto da aprendizagem, mas não é matéria resolvida.

Muito empíricamente, a generalidade dos professores, dos diferentes níveis de ensino, reconhece a existência de uma certa polarização, os bons alunos são cada vez melhores e os piores são cada vez mais uma desgraça completa. Eu próprio a constatei ao longo dos 35 anos de ensino universitário.

Ora o que o post do Conversable Economist nos traz de perturbador é a emergência das primeiras evidências de que o QI estará a recuar em alguns universos, nuns casos na idade liceal dos 14 aos 18 anos e noutros casos em idades mais tenras. Flynn sempre referiu que o aumento dos QI não deveria ser entendido como uma espécie de lei da gravidade. Estaríamos assim perante uma lei dos rendimentos decrescentes da inteligência humana. É especialmente relevante, para além dos trabalhos do próprio Flynn, uma investigação centrada na Noruega que demonstra que a descida do QI se observa não só no interior das famílias mas também entre elas, o que parece sugerir que não se deve a alterações de composição familiar, mas predominantemente a fatores de contexto. Quais são esses fatores é uma outra questão, não resolvida, o que vai adensar o mistério dos fatores explicativos da evolução da inteligência humana.

Toda a gente já tinha percebido que o mundo está menos inteligente. O que não sabemos é se isso tem relação com a descida dos QI dos vulgares mortais.

Sem comentários:

Enviar um comentário