(Tim Taylor no Conversable Economist é uma fonte permanente
de problematização de novas ideias e de novas evidências trazidas por resultados
de investigação. A
evolução do QI e das suas causas é uma dessas matérias.)
Já perceberam que tenho uma especial afeição pelo Conversable Economist e pelo seu autor, Timothy Taylor, gestor de
edição de uma das mais prestigiadas revistas de economia, o Journal of Economic Perspectives,
americana, claro está.
O Conversable Economist é uma
fonte permanente de novas ideias, alinhando com o que entendo dever ser a economia,
rigorosa mas sempre aberta à fertilização cruzada com outras perspetivas disciplinares
e não abdicando de contribuir para a compreensão dos desafios do nosso tempo.
O post do passado dia 15 (link aqui) retoma uma questão que tem permanecido relativamente
misteriosa. O mistério não resulta da ausência de explicações, mas antes do
facto de nenhuma explicação se ter imposto às demais. A questão é conhecida na
ciência por “Flynn effect”, reconhecendo o contributo de James Flynn, essencialmente
ligado à psicologia e ao estudo da inteligência humana, professor na
Universidade de Otago na Nova Zelândia. São conhecidas as análises de Flynn
sobre o crescimento progressivo da inteligência humana medida pela evolução do
QI em universos humanos de grande magnitude sujeitos a esse tipo de testes. A
investigação de Flynn tem suscitado a interrogação de saber, em primeiro lugar,
se o aumento progressivo do QI pode ou não constituir o resultado de um “bias” introduzido pelos próprios testes
que procuram medir o referido QI. Não se registando evidência pertinente para
admitir este “bias”, o mistério não
desaparece pois a explicação dos resultados do aumento do QI tem suscitado uma
imensa controvérsia. Fatores como a melhoria das condições de nutrição (como
isso foi importante na sociedade portuguesa!), a evolução das próprias
metodologias e contextos de ensino e aprendizagem ou e evolução de contexto, determinando
em termos evolucionistas o maior apelo às competências cognitivas, têm-se
confrontado para explicara referida evidência. Talvez se verifique um predomínio
das explicações que valorizam essencialmente o contexto da aprendizagem, mas não
é matéria resolvida.
Muito empíricamente, a generalidade dos professores, dos diferentes níveis
de ensino, reconhece a existência de uma certa polarização, os bons alunos são
cada vez melhores e os piores são cada vez mais uma desgraça completa. Eu próprio
a constatei ao longo dos 35 anos de ensino universitário.
Ora o que o post do Conversable
Economist nos traz de perturbador é a emergência das primeiras evidências
de que o QI estará a recuar em alguns universos, nuns casos na idade liceal dos
14 aos 18 anos e noutros casos em idades mais tenras. Flynn sempre referiu que
o aumento dos QI não deveria ser entendido como uma espécie de lei da
gravidade. Estaríamos assim perante uma lei dos rendimentos decrescentes da
inteligência humana. É especialmente relevante, para além dos trabalhos do próprio
Flynn, uma investigação centrada na Noruega que demonstra que a descida do QI
se observa não só no interior das famílias mas também entre elas, o que parece
sugerir que não se deve a alterações de composição familiar, mas
predominantemente a fatores de contexto. Quais são esses fatores é uma outra
questão, não resolvida, o que vai adensar o mistério dos fatores explicativos
da evolução da inteligência humana.
Toda a gente já tinha percebido que o mundo está menos inteligente. O que não
sabemos é se isso tem relação com a descida dos QI dos vulgares mortais.
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