quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

AJUSTAMENTO ATRASADO?



O último boletim económico do BCE é bastante crítico em relação à celeridade e às evidências de um ajustamento estrutural na Europa e, em particular, em Portugal. Cito quatro passagens:
· “A falha continuada na construção de folga orçamental em países com dívidas públicas elevadas é matéria de preocupação porque aumenta o risco desses países serem forçados a restringirem as suas políticas orçamentais numa futura conjuntura negativa”.
· “Uma das principais lições da última crise é que posições orçamentais sólidas dão aos países o espaço orçamental necessário para combater choques imprevistos”.
· “Um ritmo lento de redução de níveis elevados de dívida em vários Estados membros continua a ser motivo de preocupação e deve ser abordado de forma decisiva”.
· “As condições económicas atuais exigem a necessidade urgente de reconstruir amortecedores orçamentais, especialmente nos Estados membros que não atingiram os objetivos orçamentais de médio prazo”.

Pese embora a prevalência de alguma ortodoxia, a verdade é que o problema se põe com alguma acuidade num quadro em que a situação económica global dá sinais claros de abrandamento e de uma confluência perigosa de riscos a pesarem sobre a estabilidade e o crescimento. No nosso caso, a chamada de atenção mais saliente tem a ver com o facto de o cumprimento da regra do défice nominal abaixo de 3% não ser acompanhado por uma redução visível do rácio da dívida pública (ainda em torno dos 120% do PIB), sendo este nível de endividamento o principal fundamento para a continuada necessidade de se manter um garrote sobre as contas públicas que garanta a presença de impactos permanentes na despesa ou na receita (a não confundir com técnicas vocacionadas para monitorizações cegas e conjunturais) e, assim, o atingir de um objetivo de médio prazo para o chamado saldo estrutural – manifestamente, e abdicando de grandes considerações em torno da conflitual questão do saldo estrutural, Portugal surge mal colocado nesta matéria por referência ao concerto dos 18 países do Euro (ver gráfico acima); o que – e perante tudo quanto se nos apresenta pela frente no plano nacional, europeu e internacional –, merece no mínimo uma boa ponderação.

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