(A sociologia da globalização teve um grande impulso
diferenciador com a obra de Saskia Sassen. É ao seu pensamento que recorremos
para compreender a nova configuração de categorias que nunca tinham sido
pensadas no contexto de sociedades cada vez mais globais, embora saibamos que
esse pensamento coloque fora de si sociólogos mais tradicionais como a da geração
de Maria Filomena Mónica, por exemplo. O seu artigo no El Páis on line de hoje sobre os
novos predadores faz jus à relevância do seu pensamento.)
Com o apoio da gravura da sempre estimulante Eva Vásquez, o artigo de
Sassen (link aqui) transporta-nos para a complexidade e ocultismo dos novos predadores da
sociedade global. Sem ponderarmos a atividade e os efeitos nefastos destas
novas organizações globais não conseguiremos explicar o estado aparentemente
estrutural da desigualdade que assola o mundo de hoje: “Para nos livramos de
estes atores não basta a lei: são uma mescla de lógica, de decisões
informatizadas e velocidades que superam a capacidade humana de governar o
avanço de um processo”.
A tese de Saskia Sassen é perturbadora. Tudo se passaria como se não
bastasse conter e controlar os grandes donos disto tudo, “elites poderosas e
grandes proprietários”. Os algoritmos parecem ganhar vida própria, numa espécie
de antecipação de graus avançados de inteligência artificial ao serviço da
concentração do poder e da manipulação dos mais desfavorecidos.
Sassen utiliza a metáfora do confronto com a figura do velho ladrão para compreender
o ocultismo das novas formas de poder e sobretudo a forma insidiosa como esse
poder é exercido. Os dissimulados algoritmos atuam sem a marca da usurpação física
e declarada do que nos pertence e não raras vezes exploram também dissimuladamente
o nosso fascínio pela complexidade e pela tecnologia.
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