domingo, 13 de janeiro de 2019

SASKIA, ALGORITMOS E PREDADORES



(A sociologia da globalização teve um grande impulso diferenciador com a obra de Saskia Sassen. É ao seu pensamento que recorremos para compreender a nova configuração de categorias que nunca tinham sido pensadas no contexto de sociedades cada vez mais globais, embora saibamos que esse pensamento coloque fora de si sociólogos mais tradicionais como a da geração de Maria Filomena Mónica, por exemplo. O seu artigo no El Páis on line de hoje sobre os novos predadores faz jus à relevância do seu pensamento.)

Com o apoio da gravura da sempre estimulante Eva Vásquez, o artigo de Sassen (link aqui) transporta-nos para a complexidade e ocultismo dos novos predadores da sociedade global. Sem ponderarmos a atividade e os efeitos nefastos destas novas organizações globais não conseguiremos explicar o estado aparentemente estrutural da desigualdade que assola o mundo de hoje: “Para nos livramos de estes atores não basta a lei: são uma mescla de lógica, de decisões informatizadas e velocidades que superam a capacidade humana de governar o avanço de um processo”.

A tese de Saskia Sassen é perturbadora. Tudo se passaria como se não bastasse conter e controlar os grandes donos disto tudo, “elites poderosas e grandes proprietários”. Os algoritmos parecem ganhar vida própria, numa espécie de antecipação de graus avançados de inteligência artificial ao serviço da concentração do poder e da manipulação dos mais desfavorecidos.

Sassen utiliza a metáfora do confronto com a figura do velho ladrão para compreender o ocultismo das novas formas de poder e sobretudo a forma insidiosa como esse poder é exercido. Os dissimulados algoritmos atuam sem a marca da usurpação física e declarada do que nos pertence e não raras vezes exploram também dissimuladamente o nosso fascínio pela complexidade e pela tecnologia.

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