segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

BREXIT E POPULISMO



(O Reino Unido está mergulhado no mais profundo paradoxo. Por um lado, o canto de sereia dos Brexiters acenou com a pretensa recuperação da soberania e do prestígio mundial de outrora, irreversivelmente perdido. Por outro, a imagem de barata tonta e desorientada é própria de um país que perdeu a razão e a lucidez. E tudo começou com a falta de coragem de um líder conservador arrogante que para evitar que os contestatários do seu partido lhe mordessem os calcanhares inventou um referendo com ventos que nunca controlou.)

Xosé Luís Barreiro Rivas tem razão quando na VOZ DE GALICIA (link aqui) nos afirma no seu estilo truculento e muito particular que “o Brexit foi a fenda política mais ampla pela qual entraram na Europa os populismos, a extrema-direita, o euroceticismo e a grave perturbação de cultura política e de orientação democrática que afetam os países mais avançados do mundo”. A situação quase kafkiana que se vive no Reino Unido pode resumir-se na estranha e intransigente defesa dos resultados de um referendo que hoje são rejeitados por uma percentagem significativa dos que nele viram a ilusão de regresso ao passado e a solução para todos os seus males e inseguranças.

Um defensor persistente do REMAIN e crítico aceso do embuste com que o Brexit foi vendido pelos mercadores de ilusões, Simon Wren-Lewis, insurge-se no Mainly Macro (link aqui) contra a defesa em absoluto desse referendo, no qual forças políticas bem determinadas induziram um voto “manipulado, corrupto e injusto”, afinal a base pela qual um segundo referendo é visto como um ato antidemocrático, pretensamente causador de um irreversível dano à democracia britânica. Um referendo sobre o qual não puderam votar cidadãos fortemente penalizados pelo seu resultado, os britânicos a viver na União Europeia e os europeus a viver no Reino Unido. Não será mais antidemocrática a perceção já enraizada no eleitorado britânico de que ninguém sabe afinal controlar os ventos que a arrogância e a chico-esperteza de Cameron suscitou?

De facto, a clivagem DEAL versus NO DEAL já é uma fórmula transformadíssima da clivagem que foi votada LEAVE OR REMAIN. Para além disso, não se entende bem o que a imprensa manipuladora do LEAVE tem hoje para dizer aos eleitores britânicos. Sabe-se lá com que custos, o NO DEAL é para os vendedores de ilusões a única saída para proporcionar algum ganho de soberania, amargo e que os mais desfavorecidos irão pagar caro.

Como eu compreendo a denúncia violenta de Wren-Lewis: “É extremamente óbvio em que medida gente com muito dinheiro para gastar se combinou com neoliberais extremistas e little englanders (1) para subverter o processo político no Reino Unido. Acrescentemos a este facto a tendência de demasiada gente no centro-direita para contemporizar com a extrema-direita, de Cameron que permitiu um referendo manipulado e deficientemente concebido a May que constantemente geriu políticas para agradar aos Brexiters no seu próprio partido e teremos a subversão da democracia que o BREXIT é”.

(1) Little englanders: segundo o Collins, pessoas que entendem que a maioria das influências externas na cultura e nas instituições britânicas são perniciosas.

1 comentário:

  1. A verdade eu penso que o Brexit é bom. Porém é interessante ler das opiniões. Por certo eu vi que neste ano vai sair um filme sobre o Brexit na tv. Eu recomendo! Quando leio que um filme será baseado em fatos reais, automaticamente chama a minha atenção, adoro ver como os adaptam para a tela grande. Particularmente eu gostei de assistir esse trailer. Acho que é um dos mehores filmes europeus porque desde que eu vi o trailer achei uma historia cheia de incríveis personagens e cenas excelentes. A história é impactante, sempre falei que a realidade supera a ficção. Realmente vale a pena todo o trabalho que a produção fez, cada detalhe faz que seja um grande filme. A verdade se converteu em um dos meus preferidos.

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