sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

O PSD NO QUADRATURA



(Ontem, redigi e publiquei o meu post sobre as facas afiadas no PSD cerca de meia hora antes da edição do Quadratura do Círculo. É por isso interessante confrontar a minha interpretação com o pensamento dos três mosqueteiros do programa. O que lá se passou e os argumentos desenvolvidos caracterizam melhor do que o observado em outros programas o posicionamento político atual dos três intervenientes)

José Pacheco Pereira abriu as hostilidades no programa de ontem e foi perfeitamente visível a desconfiança que o ainda militante do PSD nutre pelos ambientes e tendências políticas que caracterizam hoje o seu partido. À tese que enunciei no meu post de que a crise do PSD revela sobretudo a orfandade de uma certa direita que apostara no PSD de Passos para finalmente assumir um individualismo de mercado e se vê sem representação política no espectro de forças que se apresentarão a eleições proximamente, JPP acrescentou três outros fatores explicativos. Dois desses fatores explicativos indicativos podem designar-se de produtos de uma visão “inside” e com experiência do PSD. Aliás dois argumentos especialmente violentos e de alguma desilusão pela baixa qualidade das hostes que animam internamente o partido. Depois de frisar que as indicaria por ordem decrescente de importância, JPP apontou em primeiro lugar a razão que, em boa linguagem política de outros tempos, se designaria por, “o que eles querem é manter a mama”. Neste caso, tratar-se-ia de uma última tentativa de preservar lugar de deputados que ou resulta ou, caso falhe, se traduzirá na transumância para procurar esses lugares no Aliança de Santana Lopes. Não deixa de ser curioso que alguém de pensamento tão elaborado, indique como principal razão explicativa da crise do PSD uma questão tão prosaica como a mama política. Mas a segunda razão ainda é mais violenta. O PSD estaria tomado pelas forças da Maçonaria e Luís Montenegro (com Miguel Relvas na retaguarda) representaria mesmo a ofensiva de uma das Lojas Maçónicas em Portugal que JPP associa a práticas bastante esquisitas. Não tenho elementos de informação a partir de dentro, nem do PSD, nem da Maçonaria, para poder avaliar se estes dois fatores explicativos correspondem à hierarquia de importância que JPP lhes atribui. Só em terceiro lugar, surge a orfandade da direita e uma quarta razão valeria a pena ter sido melhor discutida, pois parece-me essencial para explicar a má imprensa que rodeia a ação de Rui Rio. Segundo JPP, o acompanhamento dos partidos políticos pela imprensa nacional faz-se na base exclusiva de um jornalista responsável em cada jornal. Essa cobertura constrói-se segundo uma narrativa de interpretação política em cada jornal, não permitindo contraditório e gerando uma tendência endógena para desvalorizar ou ignorar factos com dimensão informativa relevante suscetíveis de perturbar a narrativa política que está a ser construída. Pelas palavras de JPP, e independentemente de Rio se pôr ou não a jeito, depreende-se que a ascensão de Rio não cabe nas narrativas dos principais órgãos de comunicação social.

Jorge Coelho representou como já é a sua marca no programa o que poderíamos classificar de “senso comum com vestes socialistas”. Para JC, a questão única e fundamental é a baixa valia eleitoral que Rio trouxe para o partido. A comparação com o peso eleitoral do PAF é difícil de ser operacionalizada e o que parece indiscutível é que entre Rio e Cristas não há química alguma. Rio e Cristas são caçadores com estratégias de caça muito diferentes. Cristas gosta de atirar a tudo que mexe e Rio porfia, porfia até encontrar uma peça que valha a pena e em boa posição de tiro. Caçadas em comum são impossíveis. Como é usual numa personalidade com o peso e influência de JC, que tem amigos em todos os lados, quadrantes e forças de pressão, a narrativa de JPP sobre o take over maçónico ou a simples luta pelos lugares de deputados, é música que um político não no ativo e com pretensões a senador não gosta de ouvir. Por isso, o mínimo que JPP mereceu a tal senador foi o de ser tremendista.

António Lobo Xavier trouxe a ideia aparentemente irrefutável de que a uma dinâmica de geringonça à esquerda deve corresponder uma dinâmica alternativa à direita e face ao que é possível inferir da ação de Rio até ao momento, ele não é a liderança capaz de o fazer. Claro que, habilmente, ALX também não equacionou se Cristas está a preencher a sua parte para a emergência dessa tal outra dinâmica. Da argumentação de ALX veio, porém, uma alfinetada de grande porte à ação de Rio, sobretudo porque ela é realizada no campo das pretensões de Rio, o que mói. O argumento é potente: ao passo que o PCP e o Bloco se podem reivindicar de conquistas palpáveis a partir dos acordos com o PS (que serão aliás invocadas na batalha eleitoral), já o PSD só pode invocar os acordos da descentralização e dos Fundos Estruturais que, alinho por baixo, ou não são rigorosamente nada, ou como no caso da descentralização não são suscetíveis de compreensão pelo vulgar dos mortais. O que significa que Rio do ponto de vista dos possíveis acordos de regime com o PS não tem nada para oferecer que ofereça ao eleitorado alguma perspetiva do que poderiam os domínios de aproximação ao PS.

Resumindo, o modo como o Quadratura interpreta a crise do PSD poderá resumir-se no seguinte: JPP continua apegado a origens ideológicas do partido para as quais as tropas internas são cada vez mais residuais, circunstância que para um PS inteligente tem um potencial de capitalização imenso; JC assume a marca do senso comum e a explicação é linear: a valia eleitoral de Rio fora dos domínios do Porto carece de demonstração; ALX entende que com Rio a frente de direita não desenvolve. Ou seja, no Quadratura Rio 1, os outros 2. Veremos se a síntese do Quadratura antecipa ou não a saída de cena de Rio não sabemos para fazer o quê.

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