(Alguém insensível diria que “quem não tem cão …”, mas o profissionalismo
e o prestígio da Metropolitana de Lisboa e do maestro russo Evgeny Bushkov estão
muito para além desse dislate, tendo assegurado ontem, à noite, no Coliseu, um
cativante Concerto de Ano Novo. E o velho Coliseu lá vai resistindo, mas a remodelação impõe-se)
Pois, para alguém que escreveu há dias sobre o fascínio do Concerto de Ano
Novo de Viena e que assistir a esse espetáculo seria prenda de lâmpada de
Aladino, ir ao Coliseu, para o Concerto de Ano Novo, depois da Casa da Música
estar esgotada no dia anterior para esse mesmo efeito, cheira a compensação. Mas
isso seria extremamente injusto para a excelente Orquestra Metropolitana de
Lisboa (excelentes os metais e a jovem primeira violonista Ana Pereira) e para
o inexcedível maestro russo que conquistou o Coliseu e que lhe dedicou uma
retribuidora despedida de aplausos.
Uma noite agradável cheia de valsas e polcas dos Strauss, com relevo para
Johann Strauss II e duas peças totalmente surpresa para mim de Dimitri Schostakovich,
com relevo para o sensível e irónico Pizzicato Allegretto da suite do bailado A
Ribeira Brilhante.
O velho Coliseu gostou, apesar das pontes de frio e das correntes de ar que
atormentam a sala convidar a manter nos lugares os agasalhos (como na tribuna
onde estava), o que não é propriamente simpático com a noite lá fora com
temperaturas muito baixas. As correntes de ar do Coliseu fizeram-me lembrar o
concerto, já muito no passado, de Miles Davis, no qual cerca de meia hora do
fim do concerto Davis literalmente desapareceu, soube-se depois impressionado
por uma corrente de ar que fustigou o palco e que o levou precocemente para o
hotel, perante um público que esperou, em vão, até o fim o regresso do mago.
É indiscutível que a sala precisa de remodelação, pois pressente-se essa
necessidade mesmo nos pormenores mais laterais. Pelo que se soube este fim-de-semana,
a engenharia institucional para essa remodelação parece estar encontrada, a qual
passa por uma cedência temporária à Câmara Municipal do Porto para assegurar a
elegibilidade de uma candidatura a fundos estruturais, lá andamos nós à procura
da ajuda europeia. Dá que pensar que uma sala tão icónica da cidade não
encontre financiamento próprio, mas se a saída dos fundos estruturais for a única,
que seja.
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