domingo, 6 de janeiro de 2019

NÃO EM VIENA, MAS NO COLISEU …



(Alguém insensível diria que “quem não tem cão …”, mas o profissionalismo e o prestígio da Metropolitana de Lisboa e do maestro russo Evgeny Bushkov estão muito para além desse dislate, tendo assegurado ontem, à noite, no Coliseu, um cativante Concerto de Ano Novo. E o velho Coliseu lá vai resistindo, mas a remodelação impõe-se)

Pois, para alguém que escreveu há dias sobre o fascínio do Concerto de Ano Novo de Viena e que assistir a esse espetáculo seria prenda de lâmpada de Aladino, ir ao Coliseu, para o Concerto de Ano Novo, depois da Casa da Música estar esgotada no dia anterior para esse mesmo efeito, cheira a compensação. Mas isso seria extremamente injusto para a excelente Orquestra Metropolitana de Lisboa (excelentes os metais e a jovem primeira violonista Ana Pereira) e para o inexcedível maestro russo que conquistou o Coliseu e que lhe dedicou uma retribuidora despedida de aplausos.

Uma noite agradável cheia de valsas e polcas dos Strauss, com relevo para Johann Strauss II e duas peças totalmente surpresa para mim de Dimitri Schostakovich, com relevo para o sensível e irónico Pizzicato Allegretto da suite do bailado A Ribeira Brilhante.

O velho Coliseu gostou, apesar das pontes de frio e das correntes de ar que atormentam a sala convidar a manter nos lugares os agasalhos (como na tribuna onde estava), o que não é propriamente simpático com a noite lá fora com temperaturas muito baixas. As correntes de ar do Coliseu fizeram-me lembrar o concerto, já muito no passado, de Miles Davis, no qual cerca de meia hora do fim do concerto Davis literalmente desapareceu, soube-se depois impressionado por uma corrente de ar que fustigou o palco e que o levou precocemente para o hotel, perante um público que esperou, em vão, até o fim o regresso do mago.

É indiscutível que a sala precisa de remodelação, pois pressente-se essa necessidade mesmo nos pormenores mais laterais. Pelo que se soube este fim-de-semana, a engenharia institucional para essa remodelação parece estar encontrada, a qual passa por uma cedência temporária à Câmara Municipal do Porto para assegurar a elegibilidade de uma candidatura a fundos estruturais, lá andamos nós à procura da ajuda europeia. Dá que pensar que uma sala tão icónica da cidade não encontre financiamento próprio, mas se a saída dos fundos estruturais for a única, que seja.

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