quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

VOX E A MORTE DAS DEMOCRACIAS


O que está a acontecer na vida política andaluza é de elevada gravidade potencial e faz com que me venham à cabeça alguns excertos de um livro de dois professores de Harvard que um colega de trabalho me recomendou e li nas passadas férias de Natal (“Como morrem as democracias”). Vamos então por partes.

Começo por citar daqueles autores uma observação que, não sendo completamente inédita, permanece por demais judiciosa: “Manter os políticos autoritários longe do poder é mais fácil de dizer do que de fazer. Afinal de contas, não é suposto que as democracias interditem partidos ou proíbam candidatos de se apresentarem às eleições – e não aconselhamos tais medidas. A responsabilidade de filtrar os autoritários pertence, em vez disso, aos partidos políticos e aos líderes partidários: aos guardiões da democracia.” E logo a seguir: “Garantir o sucesso dessa proteção exige que os partidos mainstream isolem e derrotem as forças extremistas, um comportamento a que a analista de política Nancy Bermeo chama ‘distanciamento’. Os partidos pró-democráticos podem levar a cabo esse distanciamento de várias maneiras.”

Vejamos agora a situação em Espanha, melhor dito nessa província da Andaluzia que surpreendentemente abriu um caminho irreversível à extrema-direita, um caminho aliás que a tornará provavelmente de expressão significativa no plano nacional. A questão está na formação de um governo à direita, o que só poderá verificar-se estavelmente com o apoio parlamentar da novel formação extremista chamada “Vox”. As conversações já havidas conduziram a que o líder deste partido (Santiago Abascal) se decidisse a vir a público divulgar as suas 19 condições, radicais e à primeira vista impossíveis de serem assumidas, para viabilizar um governo conjunto entre Partido Popular e “Ciudadanos” – refiro algumas: expulsão de 52 mil imigrantes, eliminação das leis de género, possibilidade de veto dos pais aos conteúdos educativos, devolução de competências ao Estado em diversas áreas, mudança da celebração do “Dia da Andaluzia” para o da “Reconquista de Granada”. E basta para que se entenda ao que vêm e o alcance do que se lhes oferece exigir.

Concluo votando ao início através da síntese do bico-de-obra em presença encarado pela perspetiva do galego Alberto Feijóo, que saúdo: “Si entras em su terreno te arrastran” – pois é isso mesmo!

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