(Fim de tarde em Seixas)
(A tarde em Seixas está magnífica e toda esta calma parece
redobrada num território que globalmente definha, sobretudo pela via da saída
dos mais jovens e com ganas de vencer na vida. Quase aleatoriamente, enquanto que à secretária
desfruto desta bacia do Minho, com Santa Tecla, imponente, lá em cima a impor-se
na paisagem, percorro livros na estante, desfrutando também eles desta paisagem
e sobretudo do sol que espero que vá destruindo alguns ácaros)
O livro que me salta para as mãos teve um peso fortíssimo na minha formação:
“Economia da concorrência imperfeita”,
2º edição, Macmillan, 1969, de Joan Robinson. Na altura, devorava tudo o que
permitisse construir uma perspetiva alternativa à economia de mainstream, ensinada no meu tempo com
baixo voo de ambição na FEP. Joan Robinson assumia então na minha formação o
estatuto importante de estabelecimento de pontes com Keynes e toda a economia
clássica, incluindo a perspetiva de Marx. Robinson representava para mim a
herança mais forte da chamada Escola de Cambridge, assumindo posições e
fundamentos que sempre me foram caros, designadamente, o tratamento simultâneo
das questões do crescimento e da (re) distribuição.
Há dias, passou pelo meu scan diário
das deambulações da blogosfera económica um post
do sempre desconcertante Timothy Taylor (link aqui) que invocava uma reflexão de Joan
Robinson na sua obra Economic Philosophy
de 1962, na qual a economista inglesa situava os economistas entre os poetas e
os matemáticos, recorrendo aliás a uma conhecida reflexão de Adam Smith no seu incontornável
e muito esquecido The Theory of Moral
Sentiments.
A razão já apontada por Smith e desenvolvida por Joan Robinson prende-se com
a elevada probabilidade de em qualquer controvérsia económica serem introduzidos
elementos do foro pessoal, que resulta da inexistência de experimentação para
verificar ou falsear hipóteses e de métodos generalizadamente aceites e reconhecidos
por todos para eliminar erros de conclusões. O que Robinson pretende dizer é
que nesse contexto os economistas, tal como os poetas, são mais propensos à
divisão em fações, como se de escolas literárias se tratasse.
Esta passagem de Robinson ficou célebre: “o problema pessoal é um sub-produto da dificuldade principal, isto é, na
falta de um método experimental, os economistas não são suficientemente obrigados
a reduzir os conceitos metafísicos a proposições com contraditório possível e não
podem obrigar-se a si próprios a concordar com o que foi testado. Assim, a
economia vacila com um pé em hipóteses não estadas e com o outro em slogans não
testáveis.”
Sabemos que o rumo daqueles que tentaram fazer da economia algo de semelhante
à matemática levou a economia a uma irrelevância formalmente rigorosa. Não me
parece também que descambar para a “poesia” nos termos metafóricos de Smith e
Robinson seja também algo de muito nobre e que contribua para o reconhecimento público
da disciplina. Por isso, a economia está condenada a permanecer entre esses
dois extremos. O primeiro passo está em analisar o mais rigorosamente possível
o que se aproxima efetivamente da realidade dos factos e das coisas. A Economia
da Concorrência Imperfeita de Robinson obedecia a esse propósito. E como vimos
no post anterior a atenção ao poder de mercado de algumas empresas tem um vigor
explicativo de temas e evidências contemporâneas que encantaria Joan Robinson.
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