domingo, 20 de janeiro de 2019

CRISTINA E MARIA JOÃO



(Breves reflexões sobre o confronto entre duas personalidades da comunicação. Algum azedume na análise porque há géneros que me tiram do sério.)

Vi o Expresso da Meia-Noite num pequenino apartamento junto à Lx Factory onde costumo ficar quando dá para combinar trabalho com a visita ao filho, nora e netos lisboetas. Uma SIC Noticias que, ao que se ouviu, invoca mudanças de grelha para colocar os patins no Quadratura do Círculo, estranha opção quando Ricardo Costa e Bernardo Ferrão apadrinharam ontem um Expresso bafiento, bolorento e sem a mínima chama para tratar de mente aberta a chamada crise do PSD. Mas com bafio e bolor posso eu bem, é tudo uma questão de se atribuir ou não importância ao que se ouve. Mas o que me tira do sério é o posicionamento arrogante, elitista, desinformado de personalidades como Maria João Avillez. Há gente que, por mais importante que tenha sido, ou o queira parecer, no passado, não se mede, é incapaz de um mínimo de autocrítica, ouvir-se e perceber que pertencem ao passado, independentemente de com quem tenham dormido, privado ou simplesmente entrevistado. No meu referencial, a seu crédito só consigo localizar uma crónica da personalidade sobre a morte de Eusébio, mas nem esses valores (grandes) me fazem hoje condescender com tal personalidade.

Maria João Avillez encarna bem a razão pela qual tenho nutrido alguma contraditória simpatia pela figura de Rui Rio. É uma reação por instinto ao elitismo lisboeta que não pode com o líder do PSD, porque ele não concede as batatinhas a que esta fauna está habituada, como se o pagamento do tributo ainda fosse constitucional, ou como se estivesse escrito em algum lado que a política só pode fazer-se a partir de Lisboa. Pois, perante a apatia de Ricardo Costa e Bernardo Ferrão, a senhora destilou o seu cosmopolitismo lisboeta de meia tijela, como se por esse motivo apenas Rio estivesse condenado. E o que é lamentável é que a dita senhora tem o topete de enquadrar tudo isto numa pretensa representação e invocação das grandes questões do país. O problema é que quando foi instada a indicar essas grandes questões, a dita só conseguiu balbuciar a medo algo parecido com políticas de educação e empresas, aliás num registo que ninguém entendeu. Pelo contrário, toda a gente percebeu que aquela referência era apenas formal, pois o motivo da rejeição era outro, era uma questão de ADN socio-lisboeta que a dita personalidade considera uma espécie de requisito mínimo para o exercício do poder. Para mim, Avillez integra aquilo que para mim é a fauna dos merdeiros, uma espécie que continua a existir abundantemente, em Lisboa, muita, mas também a norte, cujos merdeiros ainda conseguem ser piores fora do seu habitat natural.

Nos últimos dias, a erupção do programa de Cristina Ferreira nas manhãs da SIC e sobretudo a imprevisível chamada de Marcelo colocaram a nova estrela de Carnaxide, nativa da Malveira, sob o fogo de alguns puristas, que andam sistematicamente a escrever sobre o facto dos políticos andarem distantes do povo e depois escarnecem de quem dele se aproxima. Sempre me impressionou o profissionalismo televisivo de Cristina apesar das suas risadas e nunca vi alguém ser desconsiderado nas suas conversas televisivas, o que para mim é matéria decisiva para aceitar ou rejeitar uma personalidade. Dir-me-ão que as duas personalidades não são comparáveis. Mas para mim entre uma profissional que se faz a pulso e que interpreta a televisão do seu tempo e uma merdeira que vive de galões do passado sempre apreciarei a primeira e abominarei a segunda.

Nota final: diverti-me imenso a ler os tweets e comentários a um tweet de Pedro Marques Lopes sobre a intervenção da dita senhora. É bom saber que se tem companhia.

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