sexta-feira, 5 de abril de 2019

A PRODUTIVIDADE

(in “The Keynesian Growth Approach to Macroeconomic Policy and Productivity”, Gianluca Benigno and Luca Fornaro, link aqui)



(Por razões estritamente profissionais, tenho nos tempos mais recentes estado mais atento ao tema da produtividade. É natural por isso que me interesse pelo debate em torno dos fatores que explicam a tendência evidenciada por aquela variável crucial do desenvolvimento económico. Por hoje, limitar-me-ei a realçar que ao contrário do que admite o pensamento económico dominante não são apenas as condições da oferta a determinar o comportamento agregado da produtividade.)

O estudo atento do pós-2007/2008, dez anos já passados sobre a Grande Recessão, levou alguns economistas mais abertos à explicação do inesperado e com pensamento não anquilosado, a registar mais uma vez a evidência de que as grandes recessões tendem a provocar processos longos e difíceis de superar de desacelerações ou mesmo quedas de produtividade. O que esta evidência quer significar é que essas grandes recessões tendem a afetar o produto (máximo) potencial das economias. Em termos mais académicos, isso significa que o produto potencial das economias não pode ser representado por uma linha vertical que só se move quando as condições de oferta (tecnológicas e institucionais se alteram). Mais prosaicamente, isso significa que as variações na procura agregada podem afetar as tendências de evolução da produtividade.

O esquema teórico que nos pode ajudar a compreender esta nova realidade, pouco ensinada quando os alunos de economia dão os seus primeiros passos na macroeconomia, é de raiz tipicamente keynesiana. Os choques recessivos determinam que as despesas de investimento das empresas e a consequente produtividade são rebaixadas pela quebra de procura agregada, tendendo a reduzir os níveis de inovação da economia. Consequentemente, qualquer estímulo de política que contribua para reanimar a procura agregada pode ter efeitos na produtividade. É essa a explicação pela qual alguns economistas têm encontrado relações consistentes entre decisões de política monetária geradoras de efeitos positivos sobre a procura agregada e a evolução da produtividade global.

Esta memória tem aplicações diversas. Imaginemos por exemplo a loucura conservadora no Reino Unido que, além de ter conduzido a economia britânica a níveis absurdos de austeridade, se tem destacado agora pela mais incompetente gestão da decisão do BREXIT. No nosso esquema teórico, a economia britânica para além de ter sofrido desnecessariamente um choque de procura por simples ideologia, prepara-se agora para apanhar em cima com um valente e descontrolado choque de oferta. Que lhes aproveite.

Como é óbvio, esta recordatória não significa de modo nenhum que desvalorizemos os aspetos tecnológicos e de contexto institucional na explicação da produtividade. Se quisermos aplicar esta reflexão ao Norte em que nos inserimos, podemos por exemplo concluir que o perfil de especialização produtiva da Região não pode ser ignorado na explicação do baixo valor da sua produtividade. Por um lado, apesar de toda a modernização (bastante além das expectativas iniciais) dos seus setores de especialização histórica, estamos perante ramos de especialização cujos ganhos de produtividade potenciais são incrementais e não disruptivos. Um país como Portugal não pode aspirar naturalmente a ganhos substanciais de evolução na cadeia de valor global desses produtos de exportação. Por outro lado, estamos numa região em que os processos de transferência de mão-de-obra de setores de produtividade mais baixa para setores de produtividade muito mais elevada têm sido relativamente escassos, com a exceção mais gritante da emergência da indústria automóvel.

Moral da história: a explicação da evolução da produtividade exige mente aberta e sem preconceitos de rigidez teórica. E atenção às evidências, como é óbvio.

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