(in “The Keynesian Growth
Approach to Macroeconomic Policy and Productivity”, Gianluca Benigno and Luca
Fornaro, link aqui)
(Por razões estritamente profissionais, tenho nos tempos
mais recentes estado mais atento ao tema da produtividade. É natural por isso
que me interesse pelo debate em torno dos fatores que explicam a tendência evidenciada
por aquela variável crucial do desenvolvimento económico. Por hoje, limitar-me-ei a realçar que ao contrário
do que admite o pensamento económico dominante não são apenas as condições da
oferta a determinar o comportamento agregado da produtividade.)
O estudo atento do pós-2007/2008, dez anos já passados sobre a Grande
Recessão, levou alguns economistas mais abertos à explicação do inesperado e
com pensamento não anquilosado, a registar mais uma vez a evidência de que as grandes
recessões tendem a provocar processos longos e difíceis de superar de desacelerações
ou mesmo quedas de produtividade. O que esta evidência quer significar é que
essas grandes recessões tendem a afetar o produto (máximo) potencial das
economias. Em termos mais académicos, isso significa que o produto potencial
das economias não pode ser representado por uma linha vertical que só se move
quando as condições de oferta (tecnológicas e institucionais se alteram). Mais
prosaicamente, isso significa que as variações na procura agregada podem afetar
as tendências de evolução da produtividade.
O esquema teórico que nos pode ajudar a compreender esta nova realidade, pouco
ensinada quando os alunos de economia dão os seus primeiros passos na macroeconomia,
é de raiz tipicamente keynesiana. Os
choques recessivos determinam que as despesas de investimento das empresas e a
consequente produtividade são rebaixadas pela quebra de procura agregada,
tendendo a reduzir os níveis de inovação da economia. Consequentemente, qualquer
estímulo de política que contribua para reanimar a procura agregada pode ter
efeitos na produtividade. É essa a explicação pela qual alguns economistas têm encontrado
relações consistentes entre decisões de política monetária geradoras de efeitos
positivos sobre a procura agregada e a evolução da produtividade global.
Esta memória tem aplicações diversas. Imaginemos por exemplo a loucura conservadora
no Reino Unido que, além de ter conduzido a economia britânica a níveis absurdos
de austeridade, se tem destacado agora pela mais incompetente gestão da decisão
do BREXIT. No nosso esquema teórico, a economia britânica para além de ter
sofrido desnecessariamente um choque de procura por simples ideologia,
prepara-se agora para apanhar em cima com um valente e descontrolado choque de
oferta. Que lhes aproveite.
Como é óbvio, esta recordatória não significa de modo nenhum que desvalorizemos
os aspetos tecnológicos e de contexto institucional na explicação da
produtividade. Se quisermos aplicar esta reflexão ao Norte em que nos
inserimos, podemos por exemplo concluir que o perfil de especialização
produtiva da Região não pode ser ignorado na explicação do baixo valor da sua
produtividade. Por um lado, apesar de toda a modernização (bastante além das
expectativas iniciais) dos seus setores de especialização histórica, estamos perante
ramos de especialização cujos ganhos de produtividade potenciais são
incrementais e não disruptivos. Um país como Portugal não pode aspirar
naturalmente a ganhos substanciais de evolução na cadeia de valor global desses
produtos de exportação. Por outro lado, estamos numa região em que os processos
de transferência de mão-de-obra de setores de produtividade mais baixa para setores
de produtividade muito mais elevada têm sido relativamente escassos, com a
exceção mais gritante da emergência da indústria automóvel.
Moral da história: a explicação da evolução da produtividade exige mente
aberta e sem preconceitos de rigidez teórica. E atenção às evidências, como é óbvio.
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