As sondagens, o tal produto pré-eleitoral que cada vez mais vale o que vale – ou seja, pouco –, indicavam há dois meses uma vitória clara do PS e um possível desastre histórico para o PSD. Daí em diante, este começou a recuperar em resultado de um Rui Rio mais cáustico e mais afinado no seu papel de líder da oposição e de um Paulo Rangel a funcionar em complemento como bombista de um serviço que encara como sendo daqueles em que prevalece o “olha para o que digo, não olhes para o que eu faço” e em que vale tudo menos tirar olhos. No meio disto tudo, abril foi um mês pesado para o governo e os erros, inevitáveis ou canhestros, foram bastantes e de alguma monta em termos de impacto na opinião pública – as sondagens mais recentes não se fizeram rogadas, logo ressentindo esta evolução numa previsão de empate técnico entre o PS e o PSD.
Paralelamente, há ainda o chamado “efeito Pedro Marques”. Para uns, o cabeça-de-lista do PS foi um ministro distante e que não deixou obra, além de ser já de si uma figura introvertida, pouco empática e dificilmente capaz de desempenhar um papel útil em termos de campanha de rua, tudo contribuindo para assim o tornar num erro de casting e numa escolha condenada a acabar mal. Para outros, ele é bem mais do que isso, quer por ter sido um ministro trabalhador e combativo quer por ser um quadro político dotado de boa capacidade técnica e assim capaz de dar dimensão substantiva aos argumentos que lhe cabe defender – lendo a sua entrevista ao “Expresso” deste fim de semana, fica-se razoavelmente elucidado nesta última perspetiva. Portanto, a procissão ainda vai no adro e o combate que Marques vai ter de travar no terreno com Rangel poderá dar ainda muito que falar a vários títulos (nomeadamente em termos de roupa suja), pese embora o facto de a questão do “poucochinho” não ir ser no final, e muito provavelmente, mais do que matéria para a noite eleitoral.
A partir de junho, aí sim, começará uma questão interna mais séria, obviamente as legislativas de início de outubro. António Costa continua a ser o grande favorito, mas uma maioria absoluta apresenta-se crescentemente fora de hipótese em virtude do desgaste do PS e da relativa solidez das forças eleitorais à sua esquerda. Os comentadores mais pessimistas para o lado socialista insistem até na ideia de que aquele desgaste, ao invés de estancado, possa vir a ser largamente alimentado por outros casos reais ou construídos a surgirem, assim não excluindo os mesmos a colocação de Rui Rio como uma alternativa de governo a não descartar. Auguro que o Verão talvez venha a ser mais quente do que se esperava mas, tudo visto e ponderado, a minha aposta continua a apontar para um desfecho com manutenção do essencial do status quo que vivemos vivendo, sendo todavia que o mais importante – o verdadeiramente importante, diria – estará no “que fazer?” a seguir num país que necessita desesperadamente de encontrar um estruturado e efetivo caminho desenvolvimentista, colocado como está há décadas perante encruzilhadas de complexa superação – isso é viável com a “geringonça”, isso é viável sem enfrentarmos seriamente os desafios da nossa “inconsistência institucional”, isso é viável sem uma estratégia económica de médio-longo prazo?
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