terça-feira, 2 de abril de 2019

PASSOS (IN)CERTOS E RUMOS AINDA DUVIDOSOS


O António Figueiredo fez bem em colocar um ponto de interrogação na sua hipótese de “ventos de esperança” resultantes de duas das eleições acontecidas na Europa durante o passado fim de semana. Primeiro, porque a vencedora das presidenciais eslovacas (Zuzana Čaputová) é, apesar de tudo, a relativa incógnita de um “melão por abrir” e apenas o produto positivo possível de um país em estado quase comatoso e fundamentalmente à deriva em matéria de cumprimento de mínimos de valores – bom, todavia, que a dita tenha remetido à sua insignificância o atual comissário europeu da Energia (Maroš Šefčovič). Depois, porque a derrota de Erdoğan nas locais turcas foi ainda bastante escassa – a expressão do seu peso percentual até aumentou ligeiramente – e concentrada em termos geográficos e religiosos (ver mapas abaixo, onde a representação eleitoral do partido do atual presidente surge identificada a amarelo), ainda que contenha elementos simbólicos muito relevantes (conquistas de Ancara e Istambul, especialmente). Por fim, porque também houve um processo eleitoral na Ucrânia – em que se apresentaram 39 candidatos! – e o respetivo vencedor da primeira volta foi um humorista de 41 anos (Volodimir Zelenskii) que deixou o atual e controverso presidente (Petro Poroshenko) a larga distância – 30,1% contra 18,5%, respetivamente; de notar que Zelenskii é o protagonista de uma sitcom muito popular em que desempenha o papel de um professor que ganha as eleições presidenciais depois de fazer discursos inflamados contra a corrupção da classe política, na realidade o mesmo que ele está a procurar concretizar através de um partido recém-fundado (“Servo do Povo”, tal como na referida série) e de um aproveitamento da queda de popularidade de Poroshenko em face da sua larga impotência no combate à corrupção e do impasse dominante na guerra no leste do país contra os separatistas pró-russos; poderá ser este homem totalmente inexperiente e altamente inconfiável o líder que forçará a adesão da Ucrânia à União Europeia e à Nato ou conseguirá ainda a máquina financeira e organizada ao serviço de Poroshenko reverter a situação e mantê-lo à cabeça dessa linha?

(cartoon de Agustin Sciammarella, http://elpais.com)

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