(A vertigem política espanhola vai-me tirando do sério,
tamanha é a sua volatilidade e grande o risco de uma ingovernabilidade que não é
favorável a uma convivência de uma economia ainda frágil como a nossa. Por isso, tenho dado comigo a concordar com perspetivas
com as quais estaria longe de admitir tanta proximidade.)
A evolução da situação política espanhola em caminhada rápida para as eleições
de 28 de abril parece confirmar a resistência de Pedro Sánchez a liderar um
PSOE que não esperaria tal mudança no eleitorado. É mesmo impressionante o modo
como o PSOE se perfila como formação mais votada em muitas parcelas do território
espanhol, tirando partido da enorme fragmentação a que a direita se esta a
expor. Pode dizer-se que a vitória provável de Sánchez e do PSOE será uma espécie
e vitória de Pirro, sujeitando-o sabe-se lá a que tipo de compromissos e
acordos para formar um governo a partir das próximas eleições. E não é de
enjeitar mesmo uma nova espécie de polarização interna com o PSOE a enfrentar
mais do que o PP ou o CIUDADANOS uma direita mais extrema, o VOX, que emergiu
para acordar os demónios mais reacionários da velha e conservadora Espanha. À
tentação de dar Voz a esses sentimentos conservadores mais adormecidos numa
Espanha cuja religiosidade está em flagrante queda não resistiram os “modernaços”
Casado e Rivera, projetando os seus partidos, o PP e o CIUDADANOS, para uma guinada
oportunista à direita das direitas que normalmente condena os trânsfugas. O
PSOE agradece embora sem força para liderar um compromisso de governação que não
venda a alma ao diabo das reivindicações regionalistas mais ousadas e
descabeladas.
É neste quadro de vertigem que tenho dado comigo a subscrever tomadas de
posição de gente que leio com regularidade, embora nunca imaginando pode
identificar-me com algumas das suas posições.
Já por repetidas vezes tenho aqui mencionado a prosa truculenta do cientista
político Xosé Luís Barreiro-Rivas que só não tem mais audiência em Portugal
porque escreve na Voz de Galicia e é galego. Barreiro-Rivas tem um passado político
demasiado oscilante para meu gosto mas reconheço-lhe a frontalidade política
que falta a muito comentário político. Mas perante a vertigem política que
avança a todo o vapor em Espanha, algumas das suas palavras merecem eco neste
blogue (link aqui) :
“Já lá
vão três anos sem que ninguém tenha feito uma reflexão geral sobre o momento em
que a Espanha se encontra, os seus problemas, as suas oportunidades e os seus
objetivos. Tudo o que se propõe e discute está baseado em truques para
incautos, que, expostos sem coerência nem contexto, mais parecem campos minados
para os governos futuros do que programas de ação cumulativa que possam fazer
crescer o bem-estar independentemente dos governos que mudem e dos políticos
que passem. Nem sequer sabemos o que é Espanha, nem porquê, ao mesmo tempo que o
conjunto se desfoca entre memórias manipuladas e relatos complexados, cada um
dos recantos que podem ficar deste formoso país aspira a poder comparar-se com
as grandes nações que conservam a sua unidade.
Por isso estamos num labirinto eleitoral, cheio de tristes armadilhas, no
que – fazendo a média das sondagens ontem publicadas – pode passar-se tudo ou o
seu contrário. Um panorama de confusão e de fuga para a frente em que apenas
brilha Sánchez como estrela fugaz.”
A ideia de labirinto eleitoral parece-me muito sugestiva.
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