(Rodeado de netos, não há muito tempo para a necessária
concentração. Opto,
por isso, por mais uma vez recorrer a um daqueles gráficos que nos transporta
para muitas reflexões determinadas por uma evidência.)
A EUROFOUND – European Foundation for the Improvement of Living and Working
Conditions acaba de publicar uma reflexão sobre o futuro da indústria
transformadora (IT) na Europa ou se quisermos da industrialização em geral,
conhecendo nós a relevância da IT para essa industrialização (link aqui).
Por razões que transcendem o alcance deste post, a União Europeia vive globalmente, apesar do sempre lembrado motor
industrial da Alemanha, um processo de desindustrialização precoce, ou seja, de
uma desindustrialização mais que proporcional ao seu nível de desenvolvimento
económico. Sabemos também que há uma lei estrutural do desenvolvimento económico
que nos diz que com o aumento do nível de desenvolvimento económico as IT
tendem a perder peso em termos de produto e de emprego, com variantes determinadas
pelo comportamento da produtividade. É essa perda que abre oportunidades a outros
países para entrar na exportação de produtos manufaturados. Mas esse processo
de desindustrialização tem gradações e alguns países viveram-no antes do tempo
e com uma intensidade que deveria ser menos brutal e mais gradual.
O gráfico acima tem a particularidade de descrever a variação dos níveis de
emprego da IT para três períodos bem significativos: 2001-2007 (antes da Grande
Recessão), 2007-2014 (cobrindo a crise e a recuperação agónica) e 2014-2017 com
recuperação mais ritmada.
Se olharmos para a parte esquerda do gráfico, verificamos três coisas
relevantes: primeiro, a perda de emprego na IT foi assinalável em praticamente
todos os países, com relevo para os países que foram mais impactados pela crise
das dívidas soberanas, incluindo Portugal; segundo, verifica-se também que a
perda de emprego se observa com intensidade no período anterior à crise tocando
os mais desenvolvidos e sobretudo o Reino Unido; terceiro, na recuperação menos
agónica, a de 2014 a 2017, a recuperação do emprego atinge sobretudo as economias
ainda em processo de transformação estrutural, com Portugal num lugar de
relevo.
O gráfico acima analisa as posições em termos de peso do emprego na IT em
relação ao emprego total. E aí a lei estrutural do desenvolvimento económico
emerge com clareza – o nível de desenvolvimento económico tende a reduzir esse
peso, sem drama, ou seja estrutural e irremediavelmente.
O que determina uma importante conclusão: quanto melhor a qualidade do
emprego que se retenha na IT menos penosa é a referida mudança estrutural. É um
desafio que se coloca à economia portuguesa: não perder precocemente o saber-fazer
industrial que possui e manter os empregos melhor qualificados como forma de
robustecer o posicionamento na divisão internacional do trabalho.
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