sexta-feira, 19 de abril de 2019

GRÁFICOS (II)



(Rodeado de netos, não há muito tempo para a necessária concentração. Opto, por isso, por mais uma vez recorrer a um daqueles gráficos que nos transporta para muitas reflexões determinadas por uma evidência.)

A EUROFOUND – European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions acaba de publicar uma reflexão sobre o futuro da indústria transformadora (IT) na Europa ou se quisermos da industrialização em geral, conhecendo nós a relevância da IT para essa industrialização (link aqui).

Por razões que transcendem o alcance deste post, a União Europeia vive globalmente, apesar do sempre lembrado motor industrial da Alemanha, um processo de desindustrialização precoce, ou seja, de uma desindustrialização mais que proporcional ao seu nível de desenvolvimento económico. Sabemos também que há uma lei estrutural do desenvolvimento económico que nos diz que com o aumento do nível de desenvolvimento económico as IT tendem a perder peso em termos de produto e de emprego, com variantes determinadas pelo comportamento da produtividade. É essa perda que abre oportunidades a outros países para entrar na exportação de produtos manufaturados. Mas esse processo de desindustrialização tem gradações e alguns países viveram-no antes do tempo e com uma intensidade que deveria ser menos brutal e mais gradual.


O gráfico acima tem a particularidade de descrever a variação dos níveis de emprego da IT para três períodos bem significativos: 2001-2007 (antes da Grande Recessão), 2007-2014 (cobrindo a crise e a recuperação agónica) e 2014-2017 com recuperação mais ritmada.

Se olharmos para a parte esquerda do gráfico, verificamos três coisas relevantes: primeiro, a perda de emprego na IT foi assinalável em praticamente todos os países, com relevo para os países que foram mais impactados pela crise das dívidas soberanas, incluindo Portugal; segundo, verifica-se também que a perda de emprego se observa com intensidade no período anterior à crise tocando os mais desenvolvidos e sobretudo o Reino Unido; terceiro, na recuperação menos agónica, a de 2014 a 2017, a recuperação do emprego atinge sobretudo as economias ainda em processo de transformação estrutural, com Portugal num lugar de relevo.

O gráfico acima analisa as posições em termos de peso do emprego na IT em relação ao emprego total. E aí a lei estrutural do desenvolvimento económico emerge com clareza – o nível de desenvolvimento económico tende a reduzir esse peso, sem drama, ou seja estrutural e irremediavelmente.

O que determina uma importante conclusão: quanto melhor a qualidade do emprego que se retenha na IT menos penosa é a referida mudança estrutural. É um desafio que se coloca à economia portuguesa: não perder precocemente o saber-fazer industrial que possui e manter os empregos melhor qualificados como forma de robustecer o posicionamento na divisão internacional do trabalho.

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