(As eleições europeias que se avizinham a toda a brida
dificilmente trarão a pedrada no charco que a construção europeia precisaria, facto
agravado pela relevância que as legislativas espanholas do próximo domingo do
ponto de vista dos cenários de reconstrução/decomposição da direita. Mais ainda,
a grande probabilidade dos britânicos
irem a jogo num cenário de quererem sair torna rocambolesco o que já era um pouco
deprimente.)
Há por aí analistas que associam as próximas eleições europeias a uma espécie
de cataclismo político ditado pelo reforço da posição dos eurocéticos agora
claramente misturados com direitas assustadoras e fascizantes que se avizinha para
a nova câmara. Só não alinho com essa perspetiva porque ela pressupõe uma
mudança disruptiva e brusca, quando o que temos é uma progressão larvar que se
vê à distância já há algum tempo e que terá, tudo o indica, uma maior expressão
representativa no universo dos deputados europeus. O problema não está nessa
possibilidade. Está antes na progressão de pensamento e ação que o populismo anti-europeu
de direita tem vindo a concretizar perante uma passividade política que, pela
ação e não apenas por discursos de preocupação, mais ou menos retóricos, deveriam
ter combatido há bem mais tempo. Nessa medida, a nova câmara não refletirá senão
o verdadeiro estado da arte da política europeia medida pelos seus barómetros
nacionais. Lá teremos um Partido Popular Europeu que continua a fazer de conta que
não vê a sua progressiva invasão por perspetivas políticas ameaçadoras da liberdade
(tal como o PP espanhol germinou no seu seio o VOX ultra-franquista). Lá teremos
os socialistas e sociais-democratas que ainda não depuraram do seu seio o blairismo
mais bacoco e seduzido pelas sereias do mercado e que não expurgaram o espírito
do Tratado orçamental. Teremos certamente a aliança populista e eurocética, com
Le Pen, Salvini e quejandos, reforçada com com pelo menos duas formações, mais
estruturada, com maior ambição de destruição de coisas, mais ameaçadora. Pode
parecer incómodo mas o problema está criado e os eleitorados nacionais não são ficções.
Que novidades poderão emergir para além da ameaça de quem quer destruir a
União aparecer representada numa das instituições mais relevantes da mesma? Não
imagino que Verdes, o grupo da esquerda da ECR ou mesmo os Liberais possam
emergir com resultados surpreendentes face à representação que hoje conservam
no Parlamento.
Nestas eleições de maio de 2019, existe a particularidade de eleições com
grande significado político futuro se realizarem quase um mês antes. O que não
será despiciendo, sobretudo se a extrema-direita espanhola conseguir um
resultado acima dos 10%. E há esse paradoxo dos britânicos irem a votos para as
Europeias em plena desconstrução do Brexit ou do quer que seja que veja a formar-se.
Por isso, compreendendo o apelo ao voto pelos valores positivos da União contra
os que tão só a querem destruir ou degradar, não antevejo que vá formar-se uma
câmara capaz de liderar um movimento de pressão significativa sobre os diretórios
da Comissão. Pior do que isso, tal como se perfilam, as eleições de Maio não têm
trazido à opinião pública europeia qualquer debate que se veja sobre os verdadeiros
problemas da União, sobretudo sobre a delicada relação entre as identidades
europeia (existe?) e nacionais. Ou seja, mais uma oportunidade que se perde no
emaranhado dos eleitorados nacionais. Parar para consolidar, não ignorando a
hipótese de recuo estratégico, ou avançar para a emergência de instituições
verdadeiramente comunitárias (hipótese cada vez mais sem condições para algumas
realizações-bandeira) ou investir na criatividade para novos desígnios continuam
a ser coisas longínquas sem qualquer expressão nas decisões de voto dos que irão
às urnas tentar aumentar a taxa de participação cujo declínio (ver gráfico
acima) é assustador.
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