(El Español)
(A grande sondagem realizada pelo CIS, 16.800 entrevistas de março de 2019,
abre as hostilidades em cima do início da campanha eleitoral para o 28 de abril.
Nunca se sabe efetivamente
que efeitos produzem resultados deste tipo sobre o comportamento do eleitorado,
mas a sua interpretação traz algumas regularidades.)
O Centro de Investigaciones Sociológicas (CIS), uma das entidades públicas que
realiza sondagens políticas em Espanha, tem sido por vezes acusado, sem
demonstração cabal da justeza de tal acusação, de enviesar resultados de
sondagens no sentido do PSOE. A sondagem hoje publicada praticamente em cima do
início da campanha eleitoral para o 28 de abril, pela sua magnitude, quase
17.000 entrevistados, apresenta um lastro de resultados que não pode ser
ignorado. Além disso, os resultados hoje conhecidos não se afastam
consideravelmente da média de resultados de uma gama diversificada de sondagens
realizadas para a generalidade dos jornais em Espanha, mais afetos ou
adversários do governo PSOE ainda em funções e com uma estranha gana de
produção de Decretos reais nos últimos tempos.
Embora seja sensível à agilidade e resistência política de Pedro Sánchez,
não posso deixar de reconhecer que dificilmente nos próximos tempos haverá, a
não ser o próprio, um líder político com um comportamento de governação tão
errático como o que o PSOE tem protagonizado após ter vencido a moção de
censura ao governo de Rajoy e ter deixado perplexa a direita espanhola. Sánchez,
na intenção louvável de tentar descrispar o ambiente em torno da Catalunha,
proporcionar um espaço de recuo aos independentistas catalães e permitir o
regresso á cena política dos catalanistas não independentistas, encontrou do
outro lado apenas má-fé e intransigência. O modo como geriu esse difícil
relacionamento, além de o ter conduzido a comportamentos erráticos, irritou a
Espanha profunda, que o acusa de querer entrar numa dinâmica de “faz e desfaz
governo”, legislando nos entrementes. É uma acusação grave e no próprio
interior do PSOE há quem não se reveja nesse comportamento errático. Tudo
levaria a crer que o eleitorado castigasse sem dó nem piedade o PSOE e o seu
líder. Não é isso que a sondagem do CIS nos diz, em linha com a média das
restantes, ao atribuir uma posição em torno dos 30% dos votos, com um intervalo
de 123 a 138 deputados. Não pode ignorar-se que nas condições de roleta russa
da política espanhola, algo como 40% de indecisos ainda persiste, o que dá a
toda a campanha eleitoral traços de volatilidade extrema. Dirão os mais
otimistas que o eleitorado espanhol parece validar a trajetória errática de
Sánchez, apreciando a sua resiliência interna e o seu desplante de manter laços
de diálogo com os independentistas catalães. Não seria tão otimista. A minha
explicação para os resultados hoje publicados aponta mais para o efeito
ricochete positivo no PSOE do que se vai passando de desorientação
desagregadora na direita espanhola, não esquecendo a fragmentação do PODEMOS e
de todos os movimentos que na sua proximidade se formaram a nível local, com
destaque, por exemplo, para a grande confusão que está instalada nas Mareas
galegas. Após a aliança que deu à direita espanhola, com apoio explícito do VOX
extrema-direita, o governo da Andaluzia, a sequência política desse facto
relevante foi uma completa tontice e desorientação dessa mesma direita. A
começar pelo CIUDADANOS que decidiu a
priori excluir qualquer acordo de governação com o PSOE, o que em si não é
uma tragédia, mas que nela se tornou a partir do momento em que não conseguiu
manter as devidas distâncias face ao VOX e ao seu radicalismo conservador e
centralista. O deslumbre e desplante do VOX vieram atiçar o problema. E no PP,
tenho para mim como verdade histórica, que o regresso de Aznar pela mão de
Casado, enquanto que uma desolada Soraya Saenz de Santamaría zarpava para um
sociedade de advogados e Rajoy regressava ao seu papel de “registrador”, só
poderia trazer uma má onda à direita moderada. A extrapolação precipitada por
parte da direita espanhola do êxito da operação Andaluzia acabou por gerar uma
fragmentação que é mau agoiro em termos de solidez para uma alternativa de governação
à direita e os Espanhóis podem ser duros de ouvido aos cânticos dos independentistas
mas não são parvos e tamanha fratura interna assusta qualquer um, mesmo o “espanholista”
mais profundo.
Mas a sondagem ainda traz um outro resultado bem ilustrativo de que o
eleitorado espanhol está atento a quem é quem e com consistência na dinâmica
política. Assim, observa-se uma inversa clara de posição relativa entre a Esquerra
Republicana de Junqueras (preso e em julgamento) que sobe significativamente e
o PdCat do contorcionista Puigdemont (refugiado na Bélgica) que desce substancialmente
e na mesma proporção. O que significa que os próprios catalães já se aperceberam
da diferente robustez das duas formações políticas, isolando cada vez mais Quim
Torra atualmente a presidir à Generalitat. Os dados da sondagem não permitem
alimentar certezas quanto a esta matéria, mas não está afastado o cenário de Sánchez
poder prescindir dos catalães para formar governo o que seria uma profunda
ironia. Claro que é uma ironia, mas o saco de gatos do qual Sánchez continuaria
a necessitar para ser de novo governo e não precipitar por via uma roleta de
exigências a roçar a chantagem das forças apoiantes aconselha cautelas e caldo
de galinha.
Moral da história: o eleitorado espanhol parece mostrar alguma clarividência
nas suas escolhas, mas continua a não estar afastado um cenário de
ingovernabilidade prática. Até porque um novo ciclo de governação precária em
que parece que Sánchez adquiriu competências inesperadas não se recomenda,
sobretudo para se olhar com olhos de intervenção consequente o futuro.
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