terça-feira, 9 de abril de 2019

FAITES VOS JEUX, ESPAÑA NO PUEDE ESPERAR

(El Español)


(A grande sondagem realizada pelo CIS, 16.800 entrevistas de março de 2019, abre as hostilidades em cima do início da campanha eleitoral para o 28 de abril. Nunca se sabe efetivamente que efeitos produzem resultados deste tipo sobre o comportamento do eleitorado, mas a sua interpretação traz algumas regularidades.)

O Centro de Investigaciones Sociológicas (CIS), uma das entidades públicas que realiza sondagens políticas em Espanha, tem sido por vezes acusado, sem demonstração cabal da justeza de tal acusação, de enviesar resultados de sondagens no sentido do PSOE. A sondagem hoje publicada praticamente em cima do início da campanha eleitoral para o 28 de abril, pela sua magnitude, quase 17.000 entrevistados, apresenta um lastro de resultados que não pode ser ignorado. Além disso, os resultados hoje conhecidos não se afastam consideravelmente da média de resultados de uma gama diversificada de sondagens realizadas para a generalidade dos jornais em Espanha, mais afetos ou adversários do governo PSOE ainda em funções e com uma estranha gana de produção de Decretos reais nos últimos tempos.

Embora seja sensível à agilidade e resistência política de Pedro Sánchez, não posso deixar de reconhecer que dificilmente nos próximos tempos haverá, a não ser o próprio, um líder político com um comportamento de governação tão errático como o que o PSOE tem protagonizado após ter vencido a moção de censura ao governo de Rajoy e ter deixado perplexa a direita espanhola. Sánchez, na intenção louvável de tentar descrispar o ambiente em torno da Catalunha, proporcionar um espaço de recuo aos independentistas catalães e permitir o regresso á cena política dos catalanistas não independentistas, encontrou do outro lado apenas má-fé e intransigência. O modo como geriu esse difícil relacionamento, além de o ter conduzido a comportamentos erráticos, irritou a Espanha profunda, que o acusa de querer entrar numa dinâmica de “faz e desfaz governo”, legislando nos entrementes. É uma acusação grave e no próprio interior do PSOE há quem não se reveja nesse comportamento errático. Tudo levaria a crer que o eleitorado castigasse sem dó nem piedade o PSOE e o seu líder. Não é isso que a sondagem do CIS nos diz, em linha com a média das restantes, ao atribuir uma posição em torno dos 30% dos votos, com um intervalo de 123 a 138 deputados. Não pode ignorar-se que nas condições de roleta russa da política espanhola, algo como 40% de indecisos ainda persiste, o que dá a toda a campanha eleitoral traços de volatilidade extrema. Dirão os mais otimistas que o eleitorado espanhol parece validar a trajetória errática de Sánchez, apreciando a sua resiliência interna e o seu desplante de manter laços de diálogo com os independentistas catalães. Não seria tão otimista. A minha explicação para os resultados hoje publicados aponta mais para o efeito ricochete positivo no PSOE do que se vai passando de desorientação desagregadora na direita espanhola, não esquecendo a fragmentação do PODEMOS e de todos os movimentos que na sua proximidade se formaram a nível local, com destaque, por exemplo, para a grande confusão que está instalada nas Mareas galegas. Após a aliança que deu à direita espanhola, com apoio explícito do VOX extrema-direita, o governo da Andaluzia, a sequência política desse facto relevante foi uma completa tontice e desorientação dessa mesma direita. A começar pelo CIUDADANOS que decidiu a priori excluir qualquer acordo de governação com o PSOE, o que em si não é uma tragédia, mas que nela se tornou a partir do momento em que não conseguiu manter as devidas distâncias face ao VOX e ao seu radicalismo conservador e centralista. O deslumbre e desplante do VOX vieram atiçar o problema. E no PP, tenho para mim como verdade histórica, que o regresso de Aznar pela mão de Casado, enquanto que uma desolada Soraya Saenz de Santamaría zarpava para um sociedade de advogados e Rajoy regressava ao seu papel de “registrador”, só poderia trazer uma má onda à direita moderada. A extrapolação precipitada por parte da direita espanhola do êxito da operação Andaluzia acabou por gerar uma fragmentação que é mau agoiro em termos de solidez para uma alternativa de governação à direita e os Espanhóis podem ser duros de ouvido aos cânticos dos independentistas mas não são parvos e tamanha fratura interna assusta qualquer um, mesmo o “espanholista” mais profundo.

Mas a sondagem ainda traz um outro resultado bem ilustrativo de que o eleitorado espanhol está atento a quem é quem e com consistência na dinâmica política. Assim, observa-se uma inversa clara de posição relativa entre a Esquerra Republicana de Junqueras (preso e em julgamento) que sobe significativamente e o PdCat do contorcionista Puigdemont (refugiado na Bélgica) que desce substancialmente e na mesma proporção. O que significa que os próprios catalães já se aperceberam da diferente robustez das duas formações políticas, isolando cada vez mais Quim Torra atualmente a presidir à Generalitat. Os dados da sondagem não permitem alimentar certezas quanto a esta matéria, mas não está afastado o cenário de Sánchez poder prescindir dos catalães para formar governo o que seria uma profunda ironia. Claro que é uma ironia, mas o saco de gatos do qual Sánchez continuaria a necessitar para ser de novo governo e não precipitar por via uma roleta de exigências a roçar a chantagem das forças apoiantes aconselha cautelas e caldo de galinha.

Moral da história: o eleitorado espanhol parece mostrar alguma clarividência nas suas escolhas, mas continua a não estar afastado um cenário de ingovernabilidade prática. Até porque um novo ciclo de governação precária em que parece que Sánchez adquiriu competências inesperadas não se recomenda, sobretudo para se olhar com olhos de intervenção consequente o futuro.

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