terça-feira, 16 de abril de 2019

GRÁFICOS



(Este blogue não é propriamente fanático por gráficos. Mas há exemplos tão ilustrativos do poder da infografia que vale a pena por vezes não resistir à sua sedução. Obviamente, não deixando de reconhecer que os gráficos não se substituem a uma interpretação mais ampla do que se pretende evidenciar. É este o caso.)

Reconheço que em termos académicos e profissionais a infografia é uma arte. Estamos demasiado rotinados nos automatismos do EXCEL para descobrir que mesmo no âmbito de um programa de utilização corrente e generalizada é sempre possível descobrir uma nova forma de representação gráfica. Já não falo em software especializado para o trabalho de infografia que cada vez mais aparece na divulgação de informação económica e científica e geral.

O gráfico que vos trago hoje tem a chancela do Economist a suportá-lo e  isso basta para lhe dedicar a atenção que merece.

A revista inglesa propõe-nos uma forma expedita de nos expor o fenómeno da desigualdade para economias avançadas antes e depois de impostos e transferências, ou seja antes e depois dos governos exercerem o seu papel mais ou menos redistributivo. O gráfico joga habilmente com valores do coeficiente de GINI para um dado momento do tempo e variações que esse mesmo coeficiente experimenta após a ação de impostos e transferências. O coeficiente de GINI é daqueles indicadores que quase toda a gente critica por ser demasiado agregado mas que praticamente ninguém se recusa a ignorá-lo dada a sua simplicidade (numa escala de 0 a 1, em que 0 representaria a situação de máxima equidade e 1 a desigualdade máxima).

Antes de impostos e transferências, o indicador não traz novidades sensíveis. Lá aparecem com valores mais elevados do GINI economias latino-americanas como o México e o Chile e com alguma surpresa a Irlanda e entre os baixos GINI’s a Coreia do Sul que é sempre um quebra-cabeças por apresentar baixos níveis de desigualdade. Corrigindo os valores pelos impostos e transferências, percebe-se que a Irlanda revela uma ação redistributiva muito significativa, os EUA nem por isso e a França revela-se como um exemplo consolidado de redistribuição, informação que não deve ter circulado entre os “coletes amarelos”. O mesmo acontece com as sociedades escandinavas. Portugal tem um desempenho redistributivo interessante em termos comparativos, não tão saliente como o francês ou o irlandês, mas mesmo assim digno de nota. Claro está que, pelas razões atrás apontadas, a Coreia do Sul não necessita de um elevado desempenho redistributivo para se apresentar com um dos mais baixos níveis de desigualdade após impostos e transferências.

Regressando à mensagem inicial, pode dizer-se que este é um bom exemplo de infografia não excessivamente elaborada. Mas por mais sugestiva e imaginativa que seja não dispensa a interpretação dos números apresentados. O gráfico surpreende e isso basta. Não imaginaríamos a Irlanda com uma política tão redistributiva como os dados da OCDE o sugerem, tanto mais surpreendente quanto mais o modelo económico aponta para uma presença decisiva de grandes grupos multinacionais e gigantes da tecnologia.

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