(Este blogue não é propriamente fanático por gráficos. Mas
há exemplos tão ilustrativos do poder da infografia que vale a pena por vezes não
resistir à sua sedução. Obviamente, não deixando de reconhecer que os gráficos não se substituem a
uma interpretação mais ampla do que se pretende evidenciar. É este o caso.)
Reconheço que em termos académicos e profissionais a infografia é uma arte.
Estamos demasiado rotinados nos automatismos do EXCEL para descobrir que mesmo
no âmbito de um programa de utilização corrente e generalizada é sempre possível
descobrir uma nova forma de representação gráfica. Já não falo em software especializado
para o trabalho de infografia que cada vez mais aparece na divulgação de
informação económica e científica e geral.
O gráfico que vos trago hoje tem a chancela do Economist a suportá-lo e
isso basta para lhe dedicar a atenção que merece.
A revista inglesa propõe-nos uma forma expedita de nos expor o fenómeno da
desigualdade para economias avançadas antes e depois de impostos e transferências,
ou seja antes e depois dos governos exercerem o seu papel mais ou menos redistributivo.
O gráfico joga habilmente com valores do coeficiente de GINI para um dado momento
do tempo e variações que esse mesmo coeficiente experimenta após a ação de
impostos e transferências. O coeficiente de GINI é daqueles indicadores que
quase toda a gente critica por ser demasiado agregado mas que praticamente ninguém
se recusa a ignorá-lo dada a sua simplicidade (numa escala de 0 a 1, em que 0
representaria a situação de máxima equidade e 1 a desigualdade máxima).
Antes de impostos e transferências, o indicador não traz novidades sensíveis.
Lá aparecem com valores mais elevados do GINI economias latino-americanas como
o México e o Chile e com alguma surpresa a Irlanda e entre os baixos GINI’s a
Coreia do Sul que é sempre um quebra-cabeças por apresentar baixos níveis de desigualdade.
Corrigindo os valores pelos impostos e transferências, percebe-se que a Irlanda
revela uma ação redistributiva muito significativa, os EUA nem por isso e a França
revela-se como um exemplo consolidado de redistribuição, informação que não
deve ter circulado entre os “coletes amarelos”. O mesmo acontece com as sociedades
escandinavas. Portugal tem um desempenho redistributivo interessante em termos
comparativos, não tão saliente como o francês ou o irlandês, mas mesmo assim
digno de nota. Claro está que, pelas razões atrás apontadas, a Coreia do Sul não
necessita de um elevado desempenho redistributivo para se apresentar com um dos
mais baixos níveis de desigualdade após impostos e transferências.
Regressando à mensagem inicial, pode dizer-se que este é um bom exemplo de
infografia não excessivamente elaborada. Mas por mais sugestiva e imaginativa que
seja não dispensa a interpretação dos números apresentados. O gráfico surpreende
e isso basta. Não imaginaríamos a Irlanda com uma política tão redistributiva
como os dados da OCDE o sugerem, tanto mais surpreendente quanto mais o modelo
económico aponta para uma presença decisiva de grandes grupos multinacionais e gigantes
da tecnologia.
Sem comentários:
Enviar um comentário