(Apesar da proximidade do abismo, a indeterminação persiste
quanto ao desfecho final da tragédia do BREXIT. De qualquer modo, apesar dos seus avanços e recuos,
das derrotas a fio que tem enfrentado e do rumo um pouco caótico da sua estratégia
de ação, começo a sentir alguma empatia com a resiliência de Theresa May. Não
se isso nos valerá de muito.)
Admito que para quem tem mantido a pachorra de acompanhar ao minuto, pelos
principais órgãos de comunicação britânicos e sobretudo através do Twitter, a
saga do BREXIT estejamos perante algo de obsessivo, de trágico mas
simultaneamente de interesse permanente tal é a variabilidade dos ventos que conduzem
o processo. Por pequenos traços dessa fonte inesgotável de surpresas quanto à
incompetência e irresponsabilidade de alguns dos BREXITERS, constato que o
ambiente é de loucura generalizada, tamanhas são as inconsequências e desplantes
a que se assiste. Todo este ambiente é bem ilustrativo de um apagão político
gerado por um processo mal antecipado, essencialmente determinado pela combinação
de duas matérias, cada qual a mais gravosa. Por um lado, a reles manipulação do
medo e insegurança associados às migrações. Por outro lado, a chegada ao
primeiro plano das maquinações políticas da recuperação da ilusão do poder imperial,
como se a economia mundial e o mundo em geral não tivessem mudado e o Reino
Unido esteja votado a um peso que os líderes mais fortes no passado nunca
imaginariam que pudesse efetivamente acontecer.
O apagão político a que me refiro é doloroso percebê-lo no mínimo dos
pormenores. É o reconhecimento da mais complexa noção de como resolver o
problema, a perceção do atavismo e sobretudo a incapacidade de reconhecer que
se atearam fogos que não se sabia combater.
É um facto que a democracia britânica com o seu Parlamento é uma instituição
de excelência ainda que nos possa chocar a preservação de algumas regras que têm
séculos a cobri-las. Mas se os britânicos me permitem a metáfora, a peça e o
teatro são de excelência mas os atores são penosamente incompetentes, sem direção
de atores e com um poder de improvisação caótico e de débil alcance.
No meio disto tudo, Theresa May lá vai resistindo e no meio de tanta parvoeira,
da qual em certos momento a própria foi intérprete, não é difícil começar a
criar alguma empatia, sempre sob o fogo de detratores e críticos que não podem
ver a Senhora a aparecer em qualquer lado.
Alastair Campbell no pró Brexit The Telegraph assina esta prosa contundente:
“Jeremy Corbyn pode não estar no poder, mas hoje tem poder. Graças a Theresa
May e à sua fraqueza e à divisão e incompetência do seu Gabinete ele tem mais poder
do que qualquer outro líder de Oposição dos tempos modernos" (link aqui).
Tudo isto é resultado do tal apagão político. Um líder trabalhista que
ainda pensa estar no tempo das reivindicações dos mineiros ingleses, ainda por
cima deixando-se apanhar numa armadilha de antisemitismo primário que nunca
deixou de apoquentar os trabalhistas, surge catapultado para uma possível solução
de BREXIT suave através de um acordo de última hora com Theresa May. Poderíamos
imaginar coisa mais inconcebível, de um político como Corbyn ser esperança dos
que se conservaram mais cosmopolitas e europeus? Dificilmente alguém o
imaginaria.
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