quarta-feira, 3 de abril de 2019

THERESA SEMPRE EM PÉ?



(Apesar da proximidade do abismo, a indeterminação persiste quanto ao desfecho final da tragédia do BREXIT. De qualquer modo, apesar dos seus avanços e recuos, das derrotas a fio que tem enfrentado e do rumo um pouco caótico da sua estratégia de ação, começo a sentir alguma empatia com a resiliência de Theresa May. Não se isso nos valerá de muito.)

Admito que para quem tem mantido a pachorra de acompanhar ao minuto, pelos principais órgãos de comunicação britânicos e sobretudo através do Twitter, a saga do BREXIT estejamos perante algo de obsessivo, de trágico mas simultaneamente de interesse permanente tal é a variabilidade dos ventos que conduzem o processo. Por pequenos traços dessa fonte inesgotável de surpresas quanto à incompetência e irresponsabilidade de alguns dos BREXITERS, constato que o ambiente é de loucura generalizada, tamanhas são as inconsequências e desplantes a que se assiste. Todo este ambiente é bem ilustrativo de um apagão político gerado por um processo mal antecipado, essencialmente determinado pela combinação de duas matérias, cada qual a mais gravosa. Por um lado, a reles manipulação do medo e insegurança associados às migrações. Por outro lado, a chegada ao primeiro plano das maquinações políticas da recuperação da ilusão do poder imperial, como se a economia mundial e o mundo em geral não tivessem mudado e o Reino Unido esteja votado a um peso que os líderes mais fortes no passado nunca imaginariam que pudesse efetivamente acontecer.

O apagão político a que me refiro é doloroso percebê-lo no mínimo dos pormenores. É o reconhecimento da mais complexa noção de como resolver o problema, a perceção do atavismo e sobretudo a incapacidade de reconhecer que se atearam fogos que não se sabia combater.

É um facto que a democracia britânica com o seu Parlamento é uma instituição de excelência ainda que nos possa chocar a preservação de algumas regras que têm séculos a cobri-las. Mas se os britânicos me permitem a metáfora, a peça e o teatro são de excelência mas os atores são penosamente incompetentes, sem direção de atores e com um poder de improvisação caótico e de débil alcance.

No meio disto tudo, Theresa May lá vai resistindo e no meio de tanta parvoeira, da qual em certos momento a própria foi intérprete, não é difícil começar a criar alguma empatia, sempre sob o fogo de detratores e críticos que não podem ver a Senhora a aparecer em qualquer lado.

Alastair Campbell no pró Brexit The Telegraph assina esta prosa contundente: “Jeremy Corbyn pode não estar no poder, mas hoje tem poder. Graças a Theresa May e à sua fraqueza e à divisão e incompetência do seu Gabinete ele tem mais poder do que qualquer outro líder de Oposição dos tempos modernos" (link aqui).

Tudo isto é resultado do tal apagão político. Um líder trabalhista que ainda pensa estar no tempo das reivindicações dos mineiros ingleses, ainda por cima deixando-se apanhar numa armadilha de antisemitismo primário que nunca deixou de apoquentar os trabalhistas, surge catapultado para uma possível solução de BREXIT suave através de um acordo de última hora com Theresa May. Poderíamos imaginar coisa mais inconcebível, de um político como Corbyn ser esperança dos que se conservaram mais cosmopolitas e europeus? Dificilmente alguém o imaginaria.

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