(The Night King is dead, killed by Arya Stark)
(Depois de um dia eleitoral intenso, à espera de bons
resultados, é tempo de regresso ao trabalho e parar para o novo fetiche das
segundas-feiras depois das vinte e duas, a última época da Guerra dos Tronos. Embora já não tenha energia e stocks de sono para aguentar a
visualização dos episódios na madrugada de domingo para segunda, não é por me
limitar à edição de segunda à noite que se perde a sensação de estarmos perante
um espetáculo global, entusiasmando tantos analistas como se tratasse de uma
guerra contemporânea.)
Não escondo que sou um devoto amalucado da Guerra dos Tronos (prefiro a
designação de Game of Thrones porque mais em linha com a trama das tramas).
Sempre entendi as sucessivas edições da série como uma longa metáfora sobre o
nosso tempo, com vários poderes disputando o Poder Global, as lutas entre os
mortes e os vivos, a luz e as trevas, o Norte e o Sul e sobretudo a última
metáfora com o Norte e o Sul a unirem-se para o combate ao inimigo comum. O
artigo do New York Times sobre o terceiro episódio já ia há pouco em mais de
700 comentários interpretativos, grande parte dos quais sobre as
características dos aparelhos de televisão mais adequados para uma visualização
perfeita das imagens mais escuras, quase impercetíveis a pitosgas com cataratas
a precisar de ser retiradas. Não interessa a época porque não tem época.
O segundo episódio tinha deixado uma tensão fascinante no ar, pressentindo
a morte possível na batalha de todas as batalhas. Dois momentos belíssimos
tinham-me ficado na retina: a cavaqueira dos cavaleiros enganando o sono antes
da batalha até que o vinho acabe, com uma cena belíssima como a da coroação
como cavaleiro de Lady Brienne of Tarth por Jamie Lannister e a surpreendente
cena da iniciação sexual da intrépida Arya Stark com o ferreiro Gendry.
Por isso a expectativa era grande para o longo episódio de 82 minutos
centrado na icónica batalha entre os mortos-vivos (chefiados pelo Night King) e
os vivos (liderados por Jon Snow e Daenerys Targaryen e por uma série de outros
cavaleiros numa hierarquia difícil de destrinçar, não esquecendo os dois
dragões sobreviventes e o inconfundível Ghost, cão branco das estepes e amigo
de Jon Snow). A passagem do segundo para o terceiro episódio foi marcada por
uma longa e complexa troca de argumentos entre especialistas acerca de quem se
finaria pelas incidências da feroz batalha, não ignorando a enigmática
declaração de Jon Snow segundo a qual se o Night King fosse morto todo o seu
exército de mortos vivos seria simultaneamente destruído, algo que foi
entendido como algo de misterioso e inexplicável. Recorde-se ainda que a força
dos mortos vivos transforma cada morte à sua mercê em novos elementos do
estranho exército. Confuso? Talvez, mas apenas para quem nunca viu a série de
culto.
Pois, ao contrário dos que se sentiram
defraudados tamanhas eram as expectativas, o recitativo da batalha de
Winterfell é, em meu entender, um documento prodigioso de um confronto sem tréguas
dos mortos vivos contra as defesas do exército reunido por Jon Snow e Daenerys
Targaryan, com alguns momentos de surpresa inolvidáveis como por exemplo o
retorno da Melissandra, a feiticeira. Para um inimigo estranho e não
convencional, os mortos-vivos, o epílogo do combate teria de processar-se de
modo também estranho e misterioso, cumprindo-se a profecia de Snow: a morte do
Night King destruiria todo o seu exército num esmigalhar apocalíptico dos
corpos como se fossem vidro. Pois a profecia cumpriu-se mas a intrépida Arya
Stark é quem desfere o golpe fatal numa espécie de reedição do velho argumento
de David contra Golias.
Certamente que o quarto episódio fará regressar a série à calma aparente de
futuras negociações, clarificando quem se finou em tão tremendo combate. Pelo
desenrolar do recitativo de Winterfell um conjunto relativamente reduzido de
personagens relevantes da história terá desaparecido, designadamente o eterno
protetor de Daenerys Targaryan Ser Jorah Mormont, o expressivo antigo elemento
da Patrulha da Noite Edd Tollett, Theon Greyjoy protetor do misterioso Ban,
Lyanna Mormont (Little Lady Lyanna que morre às mãos de um zombie de gelo
embora o matando. Todas as restantes personagens, incluindo, espera-se, o
famoso cão –lobo Ghost, regressarão para o retorno da trama.
Mas a cena em meu entender de maior impacto e criatividade é o encontro de
Arya Stark com as criaturas zombie na biblioteca,um prodígio de imaginação.
Não sei se conseguirei dormir em paz esta noite.
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